Uma carta anônima de duas páginas, intitulada “dinheiro público sendo desviado”, teria dado origem à Operação Zelotes, que apura suposto pagamento de propina a membros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), vinculado ao Ministério da Fazenda. A informação foi publicada pela Folha de S.Paulo nesta sexta-feira. Segundo o jornal, o documento, que foi entregue em um envelope pardo na sede da Polícia Federal em Brasília, cita nomes de empresas e conselheiros que participariam de “um impressionante esquema de tráfico de influência e corrupção”.

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Dos quatro conselheiros suspeitos, apenas Eivanice Canário da Silva continuava no cargo até a última quarta-feira. Jorge Celso Freire da Silva, José Ricardo da Silva e Valmar Fonseca de Menezes são os outros ex-conselheiros listados no documento. Conforme matéria publicada hoje pelo O Globo, os nove conselheiros que aparecem nas investigações como parte do esquema continuam nos cargos, duas semanas após o início da fase pública da Operação Zelotes.

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Já as empresas citadas na carta foram Caoa, Cimento Penha, Gerdau, JBS, MMC e RBS, além da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A PF, no entanto, não encontrou processos no Carf envolvendo o grupo Caoa e a Anfavea. Procuradas pela Folha, as empresas negaram possíveis irregularidades (leia abaixo).

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O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já considerou ilegais, por virem de interceptações telefônicas motivadas por denúncia anônima, provas de outra operação da PF, a Castelo de Areia, que investigava suposto esquema de desvio de recursos públicos. No caso da Zelotes, ainda não há contestação judicial sobre a carta anônima.

Contrapontos

– O grupo RBS informou ter “a convicção de que, no curso das investigações, ficará demonstrada a correção dos procedimentos da empresa. Tão logo seja contatada pelas autoridades competentes, o que ainda não ocorreu, a empresa terá a oportunidade de colaborar para a plena elucidação dos fatos”.

– A Gerdau informou que, “até o momento, não foi contatada por nenhuma autoridade pública a respeito da Operação Zelotes, da Polícia Federal, e que vem tomando conhecimento do tema pelo noticiário de imprensa”. “Todos os processos administrativos de interesse da Gerdau se acham ainda em trâmite no Carf, pendentes de julgamento final de mérito.” Segundo a empresa, “nenhuma importância foi paga, a qualquer título, a qualquer pessoa física ou jurídica em razão de sua atuação em nome da Gerdau junto ao Carf”.

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– O grupo Caoa informou que “não tem conhecimento oficial da operação e não tem relacionamento comercial com nenhuma das pessoas e empresas envolvidas. No caso relativo à Caoa já julgado no Carf, a empresa perdeu por 6 a 0, ou seja, nenhum conselheiro votou a favor da Caoa”.

– A JBS negou qualquer vínculo comercial ou relacionamento com as pessoas e empresas citadas na carta anônima, afirmou que “abomina” práticas ilícitas e “repudia qualquer tentativa” de envolver o nome da companhia na investigação. A empresa informou que atua no Carf por meio de corpo técnico próprio.

– A Anfavea informou que “desconhece o assunto”.

– Procuradas, Cimento Penha e MMC não foram localizadas

– Os conselheiros também não foram localizados.