O caderno Vestibular convidou a estudante Amanda Müller, 18 anos, para conversar com o cirurgião-dentista Gustavo Siedschlag, 25 anos, doutorando em Dentística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e parceiro de diversas clínicas odontológicas em Florianópolis e região.
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A jovem, que desde criança quer cursar Odontologia, tirou dúvidas sobre a formação, as opções de especialização e o mercado de trabalho. Empolgado e apaixonado pela profissão, Siedschlag parece ter intensificado ainda mais o interesse de Amanda pela Odontologia. Certa de sua escolha, a estudante agora se prepara para o vestibular da UFSC no fim do ano.
Assista ao depoimento do cirurgião-dentista Gustavo Siedschlag
As dúvidas de Amanda
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Desempenho
Como deve ser a formação ideal de quem ingressa no curso de Odontologia?
De acordo com Gustavo Siedschlag, existem muitas faculdades de Odontologia no Brasil, com diferentes níveis de qualidade. Ele recomenda que o estudante procure referências e se informe sobre quem são os professores que coordenam a faculdade de interesse e se eles têm destaque regional, nacional e mundial. Apesar disso, Siedschlag acredita que na maioria das vezes a experiência na universidade depende mais do próprio aluno do que da instituição.
Pós-graduação
Vale a pena seguir estudando após a graduação?
Na opinião de Siedschlag, com certeza. Hoje, independente da área, o profissional precisa se diferenciar. No caso da Odontologia, pode ser um curso de especialização, para obter mais capacitação técnica, ou, se essa for a sua “vocação”, o mestrado e o doutorado.
– Eu, particularmente, gosto muito do meio acadêmico – afirma o cirurgião-dentista.
Aprendizado
Ainda não sei em qual área da Odontologia quero focar. Como foi para você?
O término da faculdade se assemelha a um outro vestibular. Depois de conhecer várias áreas, é preciso escolher aquela com a qual você tem mais afinidade.
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– Para mim foi muito natural. Quando estava terminando o curso, senti que o que me motivava mais quando eu saía da clínica era o trabalho com restaurações. Ao longo do curso você deve identificar o que te dá mais prazer.
Gestão de negócios
É difícil montar uma clínica e se inserir no mercado?
Quem quer seguir no atendimento odontológico privado precisa saber como gerenciar um negócio. Gustavo Siedschlag acredita que é importante que o recém-formado tenha pelo menos algumas noções de administração.
– Na universidade faltam disciplinas de educação financeira, que capacitem os estudantes. Indico fazer cursos na área de gestão empresarial, ou mesmo apenas a leitura de bibliografia relativa ao tema. Fazer o que se gosta é muito importante, mas, às vezes, precisamos de uma base para impulsionar o trabalho.
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Gustavo Siedschlag se apoia na tecnologia para o
tratamento de seus pacientes
Foto: Cristiano Estrela/Agência RBS
O quase-doutor Gustavo Siedschlag
Apesar de ter apenas 25 anos, o cirurgião-dentista Gustavo Siedschlag tem muita bagagem. É formado em Odontologia pela Universidade da Região de Joinville (Univille), com mestrado e especialização em dentística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde segue estudando no programa de doutorado em dentística (ramo da Odontologia que lida com a estética e restauração dos dentes).
Quando estava no 3º ano do Ensino Médio, o hoje quase-doutor fez um estudo vocacional, que lhe ajudou a optar pela carreira.
– Como a maioria dos estudantes, quando ingressei na faculdade eu imaginava que a Odontologia se resumia ao atendimento clínico. Meu horizonte se abriu – revela.
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Foi durante um intercâmbio acadêmico, que realizou no fim de 2008 e início de 2009, na Universidade alemã Friedrich-Alexander Erlangen-Nürnberg (FAU), que ele descobriu a pesquisa em Odontologia. Hoje, se dedica a orientar outros alunos e a pesquisar novas técnicas de restauração e aprimoramento de materiais restauradores. Por trás da broca existe muito estudo e constante inovação.
Amanda Müller vai prestar UFSC no fim deste ano
Foto: Cristiano Estrela/Agência RBS
Quem é Amanda Müller
Aos 18 anos, a estudante garante que Odontologia sempre foi sua primeira – e única – opção profissional, apesar de não haver um motivo especial que justifique a escolha. O interesse veio naturalmente, nas visitas em que fazia ao dentista quando criança. Amanda prestou o último vestibular na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mas não foi aprovada. Este ano, estuda no curso pré-vestibular Tendência, em Florianópolis, para reforçar as chances de entrar na universidade.
Impressões da estudante
Depois da conversa com o cirurgião-dentista Gustavo Siedschlag, Amanda passou a ter ainda mais certeza de que quer cursar Odontologia. A estudante diz que já sabia da possibilidade de seguir pela área da pesquisa, mas depois de ouvir Gustavo falar com tanto gosto sobre o mestrado e o doutorado, considera continuar na universidade após a graduação. Sobre qual especialização seguir, diz ainda estar em dúvida, mas quando ingressar na faculdade vai seguir a dica de Gustavo e ficar olho nas áreas que mais a interessarem.
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Um dos pontos altos da conversa, para Amanda, foi quando Gustavo confirmou algo que ela já imaginava: a necessidade de ser investir em cursos de gestão empresarial e educação financeira para auxiliar na carreira de cirurgião-dentista.
Por dentro da carreira
Opções de atuação
De acordo com o chefe do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alfredo Meyer Filho, o grande campo de atuação do cirurgião-dentista hoje é o atendimento privado. Depois vem o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e a atuação em empresas, que é mais restrito. Outra opção é seguir a carreira acadêmica e trabalhar com ensino ou pesquisa.
Quanto à especialização, existem diversas áreas: atualmente, especializações voltadas para a estética têm maior destaque. Ao contrário do que muitos imaginam, a odontologia estética não é algo superficial e está diretamente relacionada à saúde e, não menos importante, resultam em bem-estar e mais auto-estima para o paciente. É possível focar ainda em Ortodontia, Implantodontia, Periodontia, Odonto-pediatria, Dentística restauradora e Próteses, entre outras.
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O que é mais gratificante
Para Gustavo Siedschlag, conseguir melhorar a saúde e a qualidade de vida do paciente é o que traz mais prazer ao cirurgião-dentista.
– É incrível quando você percebe que a pessoa ficou satisfeita e que aquela mudança vai ajudá-la a conseguir um emprego, por exemplo, e ser mais feliz – comenta.
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O que é mais difícil
Siedschlag afirma que a maior reclamação de seus colegas de profissão são os convênios odontológicos, que possibilitam o atendimento a uma grande parcela de pacientes que antes não possuíam assistência nessa área, mas que remuneram muito mal o cirurgião-dentista. Para ele, esta situação gera outro ponto negativo na profissão, que é, muitas vezes, não conseguir tratar pessoas com baixas condições socioeconômicas. A competitividade na área é apontada como um desafio para quem se forma em Odontologia.
Do que precisa gostar
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Saber e gostar de lidar com pessoas é muito importante. O professor Alfredo Meyer Filho ainda reforça que é preciso ter paciência e compaixão com o paciente, que muitas vezes fica nervoso e angustiado com o tratamento. Para quem está pensando em cursar Odontologia, se interessar pela área da saúde é o primeiro passo. Ter afinidade com disciplinas como Química e Biologia também é um ponto positivo. O cirurgião-dentista formado precisa estar sempre atualizado em relação às inovações da área, que atualmente surgem com muita rapidez.
Disciplinas e tempo de duração
O curso de graduação em Odontologia da UFSC é composto por dez períodos. Na grade curricular estão disciplinas básicas, como Bioquímica, Morfologia Celular e Saúde Pública, e outras mais específicas, como Diagnóstico, Cirurgia, Periodontia, Restauração, Prótese e Endodontia. O professor Alfredo Meyer Filho afirma que o curso forma cirurgiões-dentistas generalistas e humanistas, e que sejam capazes de atuar em todos os níveis de atenção.
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Para Gustavo Siedschlag, a faculdade de Odontologia exige muito estudo e treino prático. É um curso que exige ainda muito investimento financeiro, já que os materiais são caros.
Mercado de trabalho
O professor Alfredo Meyer Filho afirma que, por causa do grande número de cursos de graduação em Odontologia no Brasil (segundo ele, são aproximadamente 130), o mercado de atendimento privado está chegando ao ponto de saturação nas grandes cidades. Uma consequência direta desta situação pode ser a migração de profissionais para o interior. Para se destacar no mercado, tanto o professor como o cirurgião-dentista Gustavo Siedschlag recomendam o investimento em cursos de especialização e pós-graduação e a participação em congressos da área.
Salário inicial
O Sindicato dos Odontologistas de Santa Catarina (SOESC) indica que o piso salarial de um cirurgião-dentista, estabelecido a partir de uma lei federal, é de três salários mínimos para jornada de 20 horas semanais, o que corresponde a R$ 2.034. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ainda prevê adicional de periculosidade de 30% sobre o valor da remuneração e horário mínimo de contratação de duas e máximo de quatro horas diárias (que podem ser acrescidas de no máximo duas horas).
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O piso dos dentistas contratados pelo Estado em Santa Catarina é de R$ 1.513, 21 para 30 horas semanais. Depois da greve da categoria no fim do ano passado, houve um reajuste, que está sendo pago aos poucos. De abril a setembro desde ano, os profissionais vão receber o piso, mais 15% desse valor. De outubro de 2013 a março de 2014, recebem o piso, mais 30%. De abril de 2014 em diante, o salário passa a ser de R$ 1.513,21 mais 50% desse valor.