Primeiro, a pergunta:

– Onde estão as minhas pernas?

Depois, a conclusão:

– Se não fossem minhas mãos, nem estaria mais aqui.

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É o que diz Raimar Luiz Scheidt, 67 anos, que faz brinquedos e utensílios de madeira em Santa Isabel, comunidade de Águas Mornas, na Grande Florianópolis. Há 25 anos, o carpinteiro caiu da torre de uma igreja em construção. A caminho do hospital, percebeu que não sentia mais nada da cintura para baixo. Havia ficado paraplégico.

Foi uma angústia grande. Casado e pai de uma filha ainda pequena para sustentar, enfrentou dificuldades e mudanças. Uma delas foi a adaptação para a cadeira de rodas. O homem livre e trabalhador de antes passou a sentir- se dependente. Por mais de 10 anos não sabia como levar a vida adiante. Um dia admitiu para a esposa que precisava fazer alguma atividade se quisesse continuar vivendo.

– Comecei aplainando uns pedaços de madeira, colei as peças e saiu o primeiro carrinho – diz.

Foi se aprimorando. Mesmo sozinho imaginava como chegar a outros brinquedos.

Passava horas fazendo pequenos testes. A produção diversificou, mas continua artesanal. Toda a comercialização ocorre na própria oficina. Tem gente que pega para revender em outros pontos da cidade e região. Depende do tamanho e das formas, mas aumentou consideravelmente o número de peças feitas por Scheidt:

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– Faço 100, 130, 150 unidades por mês – afirma.

Mais pedidos para o Natal

Além de cadeirinhas, caminhões e objetos de decoração, também são feitos utensílios de cozinha, como colheres de pau e tábuas de carne. Com a aproximação do Natal, a dedicação é maior para abastecer a clientela. O espaço está tomado por móveis, como mesas, cadeiras de balanço, banco, cabideiros.

O aperfeiçoamento do trabalho de Scheidt foi grande. Ao ponto que ele ensinou ao genro, que também trabalha na oficina. A filha fez curso de pintura em madeira e assumiu a decoração.

A família compra madeira verde e espera para secar e cortar. Essa relação é antiga. Foi com o pai que Scheidt se iniciou na profissão de carpinteiro. Também arriscava- se na marcenaria. O avô dele também trabalhava de forma artesanal. Scheidt explica que a casa do avô ficava do outro lado do rio, lugar que ele gostava de estar. Na propriedade tinha engenho de farinha.

Mas o que mais prendia a atenção do menino era ver o avô fazendo carros de madeira. Talvez por isso Scheidt goste tanto de ver por perto o neto Samuel, cinco anos.

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– Mesmo que ele não trabalhe com madeira e tenha outra profissão. Servirá de experiência para ele ver como é a vida.