Por trás da vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara existe um pacto que altera o eixo de poder no Congresso. Sai de cena o Centrão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para voltar ao comando DEM, PSDB e o PMDB de Michel Temer e Renan Calheiros. Uma tríplice aliança montada de maneira conveniente para comandar o Congresso em 2016 e 2017, mas que dificilmente permanecerá de braços dados em 2018.

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É a volta por cima da antiga oposição. Em 2010, em plena campanha de Dilma Rousseff, o então presidente Lula afirmou em Joinville (SC) que o DEM precisava ser extirpado da política brasileira. E, durante os anos de glória do PT, praticamente foi. Mas com o desgaste do segundo governo Dilma, os escândalos da Lava-Jato e o antipetismo em alta, o partido de Rodrigo Maia conseguiu até assumir a presidência da Câmara. Para isso, fez um acordo de rodízio no comando da Casa com o PSDB. Juntos, Maia e o senador Aécio Neves (MG) fizeram os salamaleques tradicionais para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O recado é claro: estão juntos e o sucesso dos três está atrelado ao desempenho do governo de Michel Temer. Lá em 2018, na hora da briga pela presidência da República, cada um vai ver o que faz. Mesmo porque, ninguém sabe quem sobreviverá à Lava-Jato.

É em razão dessa aliança que, ontem, Maia e Temer passaram o dia dizendo que buscam a unidade dos partidos aliados. É aquele blá, blá, blá de quem sabe que precisa de votos para aprovar medidas impopulares. Criado por Cunha, o Centrão virou símbolo do fisiologismo. Ganhou do PMDB a fama de gostar de uma negociata, mas está desmantelado. Relator do impeachment, Jovair Arantes (PTB-GO), por exemplo, está ressabiado. Sonhava em assumir a presidência da Câmara em 2017. Embora tenha indicados políticos espalhados pela Esplanada, sabe que não é mais quem manda no pedaço.

E para o eleitor, cansado de um parlamento tão desmoralizado, o que muda? Por enquanto, muito pouco. Continua sendo o mesmo plenário sem brilhantismos, que elegeu Cunha e que faz recesso branco. Cassar o ex-presidente virou o básico. Mas se essa aliança quiser fazer alguma diferença terá que – além de votar a pauta econômica – assegurar um mínimo de moralidade e trabalhar por alguma Reforma Política. Pode ser ilusão, mas bem que poderia ao menos discutir a proibição de coligações nas proporcionais. Se não quiser assumir o rótulo de Cunha Light, Rodrigo Maia também não poderá engavetar o projeto das 10 medidas contra a corrupção. O relator é Onyx Lorenzoni (RS), seu colega de partido. Será pedir demais?

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