A operação abafa, articulada para frustrar os efeitos da Lava-Jato, começa a ganhar corpo. Primeiro foi o salvamento de Aécio Neves (PSDB-MG) no Senado, patrocinado por uma decisão constrangida do Supremo Tribunal Federal. Agora, chegou a vez da Assembleia Legislativa do Rio, que decidiu revogar a prisão dos deputados peemedebistas Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi. Acusados de envolvimento em um grande esquema de corrupção, investigados pelo braço regional da Lava-Jato, eles contaram com a ajuda dos próprios colegas para tentar driblar a Justiça. Quer dizer, depois de tantos escândalos o país termina o ano refém de uma classe política corrupta e corporativista.
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Um movimento que chama a atenção de quem vem apurando as irregularidades. Quando os integrantes da Lava-Jato chegaram ao atual estágio das investigações, alcançando os grandes nomes da política, havia esse temor. No retrospecto do ano, houve ações no Congresso para tentar esvaziar as delações, críticas e ataques contra o então procurador-geral da República Rodrigo Janot, e muitos conchavos nos bastidores. Diante dessa forte reação dos investigados, os procuradores tentam mobilizar a sociedade pelas redes sociais:
– O que aconteceu no Rio de Janeiro, aconteceu em todo o Brasil. Corrupção destrói vidas. É preciso reagir – escreveu o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.
A reação, no entanto, é limitada. Em Brasília, os batedores de panelas desapareceram das ruas. No Rio, houve manifestações em frente à Assembleia, mas os deputados não se intimidaram. Assim como ocorreu com os senadores que defenderam Aécio, impera a impressão de que todos estão no mesmo barco e querem se salvar. Resta ao eleitor tentar corrigir essas distorções prestando atenção nas próximas eleições.
Imoral
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Um menino de oito anos desmaiou de fome em uma escola do Distrito Federal. Ele mora a 30 quilômetros do local, em um condomínio do Minha Casa, Minha Vida, sem escola por perto. Essa é de longe a notícia mais revoltante da semana, um resumo do descaso com a educação, da falta de planejamento e de prioridades.
Desconfianças
O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, enfrenta desconfiança da ala mais dura do Supremo Tribunal Federal. Para quebrar esse clima, Segovia se comprometeu com a ministra Cármen Lúcia de direcionar agentes para investigações que estão no STF e saiu do encontro falando em parceria. Quem circula pelos corredores do Supremo conta que, no entanto, ele foi recebido de braços abertos pelo ministro Alexandre de Moraes, ex-titular do Ministério da Justiça.
Julgamento
A segunda turma do Supremo Tribunal Federal retoma na terça-feira o julgamento do inquérito envolvendo sete parlamentares do PP, entre eles, o ex-deputado João Alberto Pizzolatti (SC). Investigados na Lava-Jato, eles são acusados de crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O julgamento foi suspenso após pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, quando o placar estava dois votos favoráveis a denúncia e um contrário.