O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou a sua pendência com a Justiça em uma cruzada política. Usando o talento que tem para a retórica, o ex-presidente da República fez um resgate da trajetória do PT, falou das conquistas de seu governo na área social, convocou a militância do PT para vestir vermelho e chorou. Um roteiro sem surpresas para quem sabe que Lula tira proveito de um palanque como ninguém. Não à toa, companheiros do próprio partido o chamam de “encantador de serpentes”. Pois foi esse líder político, um dos mais populares presidentes da história do Brasil, que hoje desafiou a chamada “turma de Curitiba”.

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– Provem corrupção que vou a pé para ser preso – afirmou, depois de ter dito que ninguém é mais honesto que um político.

O centro do problema, no entanto, não foi abordado no discurso do petista. A Lava-Jato investiga crimes de corrupção que ocorreram também ao longo do governo Lula. A Petrobras foi saqueada, assim como outras estatais, com o envolvimento de diretores indicados durante a gestão petista. Dois tesoureiros do PT estão presos, um senador petista (Delcídio do Amaral) já foi cassado, inclusive saiu atirando. Mas é claro que esses pontos ficaram de fora do discurso de Lula. A narrativa do golpe, que já vinha sendo alimentada no pós-impeachment de Dilma Rousseff, ganha um novo capítulo. E o PT cai de novo na tentação de negar todos os seus erros.

Barba de molho

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Quem acompanha o trabalho dos procuradores da Lava-Jato de perto tem certeza que novas denúncias contra Lula ainda vão aparecer. A avaliação é que eles não seriam tão descuidados a ponto de fazer acusações tão graves, sem indícios mínimos.

Com a família

Petistas que estavam ao lado de Lula contaram que o ex-presidente estava muito irritado com o fato de os procuradores terem envolvido Marisa Letícia na denúncia. Preparado para manter a calma durante o discurso, esse é o único assunto que o tira do sério.

Gambiarra na UPA

O ministro Ricardo Barros (Saúde) informa que será divulgada uma portaria para flexibilizar o funcionamento de UPAs que ainda não estão operando. Em todo Brasil, há prédios prontos, mas sem recursos federais para os atendimentos. A ideia é reduzir custos, permitindo, por exemplo, que uma UPA funcione por 12 horas e não 24 horas, como determinam as regras do governo.