Se o governo Temer quiser mesmo emplacar pelo menos uma reforma até o final de 2018, terá que afinar o discurso interno e dar mais transparência ao que está sendo discutido pelas equipes de trabalho. Fundamentais para o futuro da economia, as reformas da Previdência e do Trabalho não poderão ser conduzidas ao mesmo tempo, sob o risco de inviabilizar as duas. Qualquer mudança nas regras já conhecidas pelos trabalhadores gera insegurança. Em um cenário de perda de renda e desemprego em alta, é normal o medo à redução de direitos.
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Michel Temer acertou ao anunciar que enviará ao Congresso, ainda antes das eleições, a proposta de mudança na Previdência, com idade mínima de 65 anos. Na prática, a análise vai começar mesmo somente depois do pleito. Mas nesse meio tempo, a sociedade terá condições de dissecar o projeto do Palácio do Planalto. Difícil é acreditar em votação de um assunto tão difícil, na Câmara e no Senado, até dezembro. Aliás, quem observa o comportamento dos partidos da base de apoio, duvida que as votações sejam concluídas ainda neste ano.
Além da forte oposição do PT, as legendas do centrão não parecem dispostas a enfrentar o desgaste de medidas impopulares. Portanto, anunciar o envio da Reforma Trabalhista ainda em dezembro é um atropelo. Na prática, a tendência é que o ministro Ronaldo Nogueira (Trabalho) estenda as conversas com as centrais sindicais até que fiquem esclarecidos os impasses, como a polêmica das 12 horas de trabalho por dia, desde que a semana feche com as 44 horas previstas em lei. Mas como fica a hora extra? E o feriado trabalhado? As declarações de apoio do empresariado não bastam. É preciso um mínimo de consenso para a aprovação pelo Legislativo.
O governo do PMDB tem pressa em resolver essas questões porque sabe que só sobrevive se conseguir reverter a curva do desemprego e do crescimento pífio da economia. Junto com as reformas, está ampliando o pacote de concessões como forma de atrair investimentos. Mas se não explicar exatamente quais os efeitos na vida da população, colocará ainda mais combustível nos protestos anti-Temer.
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Freezer
A intenção do PSDB é que o projeto de reajuste do salário dos ministros do STF fique no congelador da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) até o final do ano. Como a urgência para a votação não foi apreciada na última semana, os tucanos apostam que tão cedo o assunto não seja apresentado ao plenário. Governadores têm telefonado para senadores, implorando que o aumento do teto seja engavetado.
Reciclagem
O Palácio do Planalto determinou que todos os ministérios retirem as fotos oficiais da ex-presidente Dilma, mas que guardem as molduras de madeira. A mesma estrutura será usada para a foto oficial, agora de Michel Temer.
Vai doer no bolso
Quem não aparecer na segunda pra votar o pedido de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) terá o ponto descontado. O aviso é do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que sequer liberou deputados para viagens oficiais. Cobrado, Maia diz que pretende encerrar a novela de Cunha no início da próxima semana. Se não acabar na segunda, em razão dos debates, Maia promete convocar o plenário para o dia seguinte.