O discurso político e cheio de recados que a presidente Dilma apresentou fica para a história, mas não tem qualquer efeito prático. O texto foi previsível e, ao contrário do que preconizavam seus aliados, teve pouca emoção. Senadores que acompanharam cada palavra já têm o voto formulado. Muitos deles sem qualquer simpatia pela mãe do PAC.

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– Por que vou votar nela? Ela não me recebia nem quando eu era ministro.

A frase foi dita pelo senador e ex-ministro da Previdência Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) para o ex-ministro petista Jaques Wagner, que estava em busca de votos. Durante as respostas aos parlamentares, a própria Dilma reconheceu que errou ao não alimentar o contato político com o Congresso.

Mas apenas antipatia não derruba presidente. Crise econômica, sim. Ontem, Dilma teve que dar explicações sobre promessas de campanha que foram abandonadas no segundo governo. O argumento de que não havia como prever a crise não cola. Gastos inconsequentes foram feitos em 2014 exatamente para bancar a reeleição. A chamada contabilidade criativa serviu para abafar os erros na política econômica. Dilma colhe o que plantou. Na economia e na política.

– Peço que façam Justiça a uma presidenta honesta, que jamais cometeu ato ilegal. Votem sem ressentimento – apelou Dilma, dando o tom da própria defesa.

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Para a narrativa de oposição do PT, nada é tão importante quanto sedimentar a ideia do golpe. A palavra foi citada por nove vezes no discurso. Importante também foi citar o algoz pelo nome: Eduardo Cunha, que de fato abriu o processo de impeachment em um ato de vingança. Dilma não disse o nome de Temer, mas ela o chamou de “governo usurpador”.

Torpedos encaminhados, Dilma aproveitou para se despedir bem ao seu estilo. Com um vocabulário técnico, uma fala dura e a companhia de lideranças de partidos políticos, convidadas especialmente para o evento. Até o presidente do PT, Rui Falcão, que há pouco tempo puxou o tapete da presidente, sepultando a ideia de plebiscito para novas eleições, apareceu para a última homenagem.

O que será, que será?

Tapioca e café preto, na companhia de Chico Buarque. Esse foi o café da manhã da presidente Dilma, momento antes de se dirigir para o derradeiro discurso no Senado. O ex-presidente Lula e ex-ministros foram para o Palácio da Alvorada, para passar com a presidente os detalhes do discurso, mas as atenções dela – e dos convidados – estavam mesmo voltadas para o autor de “O que será, que será” e outros tantos sucessos da MPB. Defensor da tese do golpe, o cantor e compositor passou quase todo o depoimento ao lado do presidente Lula, na parte das galerias, atento. Mas achou as perguntas repetitivas.