Há um ano, quando deixou o Palácio do Planalto, em sua primeira manifestação pública pós-abertura do processo de impeachment, a então presidente Dilma Rousseff discursou:
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— Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes.
Se confirmadas pelas investigações, as delações de João Santana e Mônica Moura indicam o contrário. Os depoimentos representam um abalo à imagem da petista. Além de afirmarem que Dilma e Lula sabiam do uso de caixa 2 para pagamento de campanhas, Monica conta que a presidente, no exercício do mandato, avisou que eles seriam presos. Trata-se de algo muito grave, uma tentativa de interferência nas investigações da Lava-Jato.
De acordo com a delatora, Dilma sugeriu a transferência de uma conta do casal da Suíça para Cingapura, mostrando total consciência de como eram feitos os pagamentos. A petista nega as acusações, mas há um componente que aumenta a relevância dos depoimentos: João Santana era homem de confiança de Dilma, escolhia da cor da roupa que ela usaria em eventos públicos a nomes de programas de governo. Conforme relatos de aliados, ele era uma das poucas pessoas que a ex-presidente ouvia.
Responsável por três eleições presidenciais do PT (uma de Lula e duas de Dilma), Santana, agora, vira o algoz de seus clientes. Organizada e responsável pelas contas, o papel de Monica é detalhar e apresentar provas, como mensagens de e-mail e celular.
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Na esteira das delações, veio outra ação da Lava-Jato que pega o PT em cheio. A Operação Bullish, que finalmente chega aos negócios do BNDES, tem como foco a política de campeãs nacionais, implantada pelo governo Lula. A ideia era financiar grandes empresas, competitivas no mercado internacional. Mas tudo indica que quem contava com o apadrinhamento da consultoria de Antonio Palocci tinha preferência, e que dinheiro público foi jogado pela janela ou parou no bolso de quem organizava o esquema. Ministro de Dilma e Lula, Palocci caiu dos dois governos por envolvimento em confusões. Quem conhece a Lava-Jato por dentro afirma que, se Palocci resolver entregar o que sabe sobre Lula, o acordo de delação premiada sai a qualquer momento. O cenário atual pode servir como um empurrão.
R$ 100 MIL
É o valor estimado que Mônica Moura e João Santana pagaram por serviço de teleprompter. Dilma tinha preferência por uma empresa de São Paulo ao invés do que era disponibilizado pelo governo.
DESFEITA
Chamou atenção a ausência do líder do governo no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) no evento de um ano do governoTemer no Palácio do Planalto. Questionado, o senador Romero Jucá (RR) não escondeu o constrangimento, mas disse que está tudo bem. Dentro do Planalto, há quem defenda que o presidente não compre briga com Renan e tente reconquistá-lo, auxiliando na campanha em 2018.