A lenta e difícil recuperação política do governo Dilma volta à estaca zero com a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS). Até a venda superfaturada da refinaria de Pasadena, que já estava silenciada, volta à tona. É devastador o efeito dos diálogos escandalosos a favor da fuga de Nestor Cerveró, em que alguns dos principais nomes da República são citados. São as entranhas da corrupção explicitadas pela Lava-Jato.
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E o impacto é maior porque Delcídio não é um simples senador. Ele era líder do governo no Senado, homem de confiança da presidente da República, à frente das negociações dos principais projetos. Ele estava mandando Cerveró para a Espanha só para salvar a própria pele ou servindo também de porta-voz de outros interesses?
O clima ontem no Senado era de velório, perplexidade e medo. A prisão de um senador no exercício da função deixou de ser tabu. Se mais alguém resolver usar da influência para atrapalhar as investigações – e se as provas forem contundentes – também poderá passar uma temporada no xilindró. Sempre vale lembrar que do presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), passando por Edison Lobão (PMDB-MA) a Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Ciro Nogueira (PP-PI), todos estão sendo investigados. Mesmo assim, a prisão de Delcídio foi confirmada por esse plenário, que não quis assumir um desgaste ainda maior. Uma vitória foi a opção dos senadores pelo voto aberto. O eleitor tem o direito de saber como se comportou o seu parlamentar.
No Planalto, ontem foi dia de barata voa. Para variar, o governo demora a reagir. Gripada, a presidente Dilma se encastelou no Palácio da Alvorada. A única saída do Planalto é afirmar que Delcídio agiu por conta própria, defendendo os seus interesses. Assim como José Dirceu, ele será abandonado à própria sorte. A carreira política de Delcídio do Amaral, ex-presidente da CPI dos Correios, está sepultada. O governo, agora, é que vai remar para sair de mais essa.
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Mala pronta
No cafezinho da Câmara era grande o boato de que a Polícia Federal estaria pronta para prender mais seis deputados. Investigadores na Lava-Jato avisam que, por enquanto, não há essa previsão.