Muitos têm décadas de dedicação às escolas de samba. Outros as histórias são mais recentes. Mas uma coisa eles possuem em comum: o amor pelas agremiações. Sete deles contam um pouco desse sentimento pelas cores de sua escola. Leia abaixo um pouco dessa paixão pelo Carnaval.
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Consulado: os jovens mestre-sala e porta-bandeira
Quando casal de mestre-sala e porta-bandeira do Consulado chama atenção por outro motivo: Gabriel Oliveira e Clara Andrade desfilam juntos desde 2014, o que não é pouco. O que impressiona é que os dois têm apenas 15 anos de idade.
Clara começou a frequentar a escolinha de passistas mirins do Consulado aos sete anos. Lá conheceu Gabriel.
O garoto é filho e neto de personagens da história do Consulado. Ele conta que, aos seis anos, já gostava de ver a dança do mestre-sala. Quando conheceu crianças passistas de outras agremiações de Florianópolis, quis aprender a arte de conduzir a bandeira da escola de samba. Nos primeiros dois anos, Gabriel e Clara saíram na avenida como casal mirim.
Em 2016, aos 12 anos, se tornaram o terceiro par do Consulado. Desde o ano passado, a dupla forma o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira.
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Mesmo com a pouca idade, a responsabilidade é igual a dos adultos. A preparação para o Carnaval 2019 começou na semana seguinte ao desfile de 2018. Gabriel explica que desde janeiro, passa a frequentar a quadra com Clara e praticar passos, giros e bailados. Um trabalho para criar resistência para o desfile.
– Os ensaios começam a ser uma preparação para o desfile. O treino é dança, dança e dança, até tudo ficar perfeitinho – conta ele.
Para o sábado, a expectativa é executar bem o que está sendo e trazer o título que não vem desde 2007 – quando tinham apenas três anos.
A voz da Unidos da Coloninha
Se o Rio de Janeiro tem um intérprete que tornou-se tão importante para a escola de samba a ponto de usar a agremiação no sobrenome, como o Neguinho da Beija-Flor, Florianópolis tem um caso semelhante. Jorge Luiz canta sambas-enredos há 30 anos na avenida pela Coloninha, de forma que a história da agremiação do Continente se confunde com a dele.
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Essa relação começou em 1983, Jorge Luiz era apenas um garoto debutando no Carnaval catarinense na bateria da Coloninha. Ele assumiria o microfone seis anos depois, quando foi eleito revelação, melhor intérprete e a agremiação venceu o desfile com o enredo Este Brasil Dançador.
Durante sua trajetória, Jorge Luiz lembra com carinho de sua parceria com Sabarah, com quem considera ter formado uma dupla imbatível durante vários anos. Também tem facilidade em lembrar os enredos de todos os anos desde que entrou na Coloninha, sejam eles vencedores ou não. Inclusive, saber valorizar as co-irmãs, como ele mesmo chama, é algo que aumentou sua paixão pelo Carnaval.
Essa relação, contudo, irá se manifestar de outras formas que não pelo microfone a partir de 2020. Ele afirma que está encerrando um ciclo, deixando um grupo musical pronto com jovens da comunidade e levando para a avenida neste ano um time feminino de intérpretes que conta com a cunhada, a afilhada e a filha.
O motivo para a pausa? Ele mesmo despista, dizendo que irá responder depois do Carnaval “pro pessoal ficar curioso”.
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– O grito de guerra não é meu, o grito de guerra é da comunidade da Unidos da Coloninha que me invade e sai pela minha boca.
Dascuia: a força da Bateria Irritada
Há 11 anos, Maria Lúcia Zimmermann Moreira, 61 anos, começou a tocar chocalho pelo então Bloco do Dascuia.
Ela já tocava o instrumento, de brincadeira, em outros carnavais. Mas foi se desenvolvendo junto com o crescimento da agremiação, nascida em 2004 como bloco e que, em 2015, entrou para a elite do Carnaval de Florianópolis.
Em 2008, foi convidada para conhecer o bloco formado pelos familiares de Altamiro José dos Anjos, o Dascuia. A partir daí, considera que virou parte da família.
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– É uma convivência muito próxima, eu passei a participar das festas de família e conhecer a todos.
A “Bateria Irritada”, da qual Lúcia faz parte, é liderada pelo mestre Dudu Calixto. Nos últimos três anos, os jurados deram nota 10. Para 2019, ele conta com “Dona Lúcia” e mais 127 ritmistas para manter o conceito máximo.
A bateria vai para a avenida com o tema de Pinóquio, uma das peças interpretadas pelo dramaturgo e estilista Gesoni Pawlick, homenageado deste ano. O ritmista promete que a “Irritada” vai trazer uma surpresa.
Com década de experiência, Lúcia explica que os ensaios começam em agosto, quando oficinas para novos integrantes também iniciam. No fim do ano até a semana do Carnaval, os ensaios passam a ficar intensos, “para pegar o samba”, como ela define. Dona Lúcia e o mestre Dudu Calixto estão confiantes de que todos “pegaram” o samba deste ano e a “Irritada” estará com força total.
O Cidadão Samba que vem da Palhoça
Richard Goterra, 29 anos, descreve o amor pela Nação Guarani como o do pai para o filho que ajudou a criar. E, ao mesmo tempo, compara com a gratidão à mãe que abraçou o sonho do filho. O desejo dele era ser Cidadão Samba, posto que ocupa desde a fundação da escola da Palhoça, em 2010.
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Em 1963 foi instituído o concurso Cidadã Samba de Florianópolis, que premiava mulheres que representavam o Carnaval da cidade. Em 1987, homens também começaram a participar, sendo condecorados anualmente a Cidadã e o Cidadão do Samba. A disputa ocorre em paralelo à competição das escolas, e os vencedores se tornam representantes da cidade na corte do Rei Momo.
A história de Goterra no Carnaval começou há 13 anos quando participou do surgimento da Liga de blocos carnavalescos de Palhoça e da fundação da própria Nação Guarani.
– Tive como mestre o falecido, Jorge Luiz Arsênio, o Kadochi, primeiro Cidadão Samba de Florianópolis.
No ano que nossa escola subiu (2015), me despedi na avenida do grande mestre – explica Goterra, que também é vizinho desde a infância de outro ilustre Cidadão Samba, o Negro Gê.
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Outra das inspirações para ele é a mãe, que era apaixonada pela avenida e foi vencedora de concursos de Carnaval. Já falecida, infelizmente não viu o filho ser Cidadão Samba.
A honra que Goterra sente em representar a Nação Guarani, ele já comprovou com muito suor. Uma das vezes, ele relembra, foi no desfile em volta da Praça XV em 2017, quando sambou descalço após seu sapato rasgar.
A resistência e tradição da Protegidos
– Os Protegidos da Princesa é a resistência e a tradição.
É assim que Chayeni Fraga Bittencourt define a escola em que se criou. Ela considera que a relação com a agremiação é de sangue, materno e paterno, pois os dois lados da família tem uma história.
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– Vivi muitos momentos dentro da escola. Eu lembro de dormir lá dois meses antes do carnaval, quando era pequena, para se dedicar e preparar o desfile – diz para exemplificar os 32 anos de idade e de amor pelas cores verde, vermelho e branco.
Na trajetória dentro do Carnaval, ela já foi princesa, rainha de bateria e representou a escola como Rainha do Carnaval de Florianópolis em 2016 e 2017. Atualmente é a musa da Protegidos pelo terceiro mandato, mas a realização mais especial será neste ano, ao colocar na avenida uma ala de passistas mirins. Cinquenta crianças vão desfilar sob a coordenação de Chayeni.
– As pessoas me perguntam: por que este é o seu maior sonho? Eu digo que quero plantar uma semente. Eu fui uma semente e sou o fruto do amor pela escola. Com a ala infantil eu vejo que posso fazer a mesma coisa.
O samba-enredo da Protegidos neste ano é uma reedição do tema apresentado em 1987. Xirê – A festa dos orixás é uma homenagem ao candomblé. Para Chayeni, é um samba que mexe com a ancestralidade. Ainda mais para ela, nascida um ano antes da criação da música.
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– Eu acho que um desfile de reedição de um samba marcante é muito especial. Dizem que a escola que faz samba de reedição não ganha carnaval, mas a Protegidos está aí para quebrar esse tabu.
Mestre Diego comanda a "Guerreira"
A bateria da Embaixada Copa Lord é chamada de “Guerreira”. Neste Carnaval, em que a escola traz o samba-enredo sobre a relação do homem com o sol, ela vai representar um dia ensolarado na praia, e a rainha Renata Rosângela, o oceano. Como em toda praia lotada, haverá a presença de ambulantes, que vão interagir com os ritmistas.
Quem comanda os integrantes da Copa é o mestre Diego Cunha. Ele estreou na agremiação no ano passado conquistando o título geral, com nota máxima para a bateria. O mestre, de 35 anos (e 26 no Carnaval de Florianópolis), foi campeão também em 2017 e 2016, pela Unidos da Coloninha.
Diego e os 160 guerreiros e guerreiras têm boas expectativas para o desfile deste ano.
– Prometemos muito ritmo e muita alegria, nossa função é tocar para a escola cantar e daremos o nosso máximo para fazermos isso com maestria, sempre com muita humildade e muito trabalho – avisa.
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Mestre Diego conta com 38 mulheres na bateria, e deseja que este número aumente a cada ano. A garra para tocar não tem idade: os ritmistas da Copa Lorde têm entre oito e 74 anos. E tempo de vida não atrapalha na dedicação para fazer os 30 pontos na avenida. Nos ensaios, os filhos dos diretores, alguns com cinco anos de idade, já aprendem a tocar. O filho de Diego, de sete, segundo o pai coruja, sabe todos os instrumentos.
Para o desfile, a expectativa é de continuar com o bom resultado alcançado em 2018.
– Desde o ano passado foi realizado um trabalho de fundamentos e musicalização dos integrantes, que estão muito engajados na causa – afirma.