Carlos Schroeder: Confira um guia de leitura para o inverno catarinense

O inverno só começa oficialmente na próxima semana, mas já faz alguns dias que os catarinenses usam e abusam de todo o estoque de casacos. E como não há nada melhor do que um livro para acompanhar um café e uma coberta, as editoras brasileiras prepararam uma série de lançamentos para este mês de junho.

A Companhia das Letras tem o melhor pacote: a festa começa com A guerra não tem rosto de mulher, da vencedora do prêmio Nobel Svetlana Aleksiévitch, e a história verídica das incríveis aventuras das soldadas soviéticas que lutaram durante a Segunda Guerra. E para os fãs (como eu) do norueguês Karl Ove Knausgard, chega o quarto volume da série de ficção autobiográfica Minha Luta: Uma temporada no escuro narra o inverno que Karl passou perto do Circo Polar Ártico, investindo na escrita e na perda da virgindade. Também sai o ótimo A história dos meus dentes, da mexicana Valeria Luiselli, uma narrativa engraçada e comovente sobre como as histórias que inventamos moldam a nossa vida e identidade. E por fim, o mestre Armando Freitas Filho apresenta seu testamento: Rol traz a morte como pano de fundo e mostra a poética corajosa, madura e sensível de um dos maiores poetas em atividade do Brasil.

A volta de um clássico

O livro A confissão de um filho do século de Alfred de Musset, fora de catálogo no Brasil há alguns anos, acaba de chegar às livrarias numa edição especial, em capa dura, pela Amarilys Editora. Com nova tradução, de Maria Idalina Ferreira Lopes e prefácio de Veronica Galindez, este romance de base biográfica dá voz a Otávio, um jovem burguês de 19 anos que, após descobrir ter sido traído por sua amante, passa a refletir de forma desiludida sobre o amor, o dandismo, as práticas libertinas da vida noturna e o vazio que se instalam dentro dele. Musset desenvolve, a partir dessa situação, uma narrativa que explora as profundezas de uma construção sentimental. Assim acompanhamos a proposta romântica de Musset no que ela tem de mais específico, a experiência pessoal, e ao mesmo tempo seu aspecto transcendente ou político: a reflexão analítica a respeito de sua geração e de seu contexto.

Musset e autoficção

O francês Alfred de Musset (1810-1857) foi dramaturgo, poeta e romancista. Depois de tentar carreiras na medicina, em direito, em desenho, em inglês e no piano, ele se tornou um dos primeiros escritores românticos. Em 1832, viaja para Itália na companhia da escritora George Sand, com quem manteve um escandaloso relacionamento amoroso entre 1833 e 1835. Durante esta viagem, Musset adoece e George Sand torna-se amante de seu médico. Musset escreve A confissão de um filho do século, em 1836, quando volta para Paris e se recupera do choque. Musset recebeu a Légion d’honneur em 1845, ao mesmo tempo que Honoré de Balzac. Foi eleito para a Académie Française em 1852, depois de duas tentativas frustradas em 1848 e 1850.

Philip K. Dick por Emmanuel Carrère

Você pode nunca ter lido um livro do norte-americano Philip K. Dick (1928 -1982), mas conhece suas histórias. Filmes como Blade Runner, O vingador do futuro, O pagamento, Agentes do destino, O homem duplo, Minority Report: A Nova Lei e muitos outros saíram das páginas dos livros de Dick. Com cerca de 121 contos e 44 romances publicados, Dick influenciou escritores como Roberto Bolaño e Haruki Murakami, e bandas como Bloc Party e Sonic Youth.

A editora Aleph lança neste junho Eu Estou Vivo e Vocês Estão Mortos – A Vida de Philip K. Dick, de Emmanuel Carrère (um dos meus escritores franceses contemporâneos prediletos), livro que revela, de maneira sensível e empática, episódios da vida de Dick, relatando experiências, neuroses, psicopatias, percepções e paranoias, sem qualquer condescendência, falando sobre o homem e o personagem por trás de suas obras emblemáticas.

Catarina

A segunda edição (a primeira é de 2007) do romance Aguardo, do blumenauense Gregory Haertel, chegará às livrarias no final de junho, desta vez pela Editora da Casa. A narrativa da cidade assombrada por uma enchente e suas personagens enigmáticas é um belo exemplo da boa literatura produzida no estado. Gregory lançará A casa antiga, seu novo romance, em agosto.