Carlos Miele fala de Floripa, moda e arte e as raízes brasileiras

Para Carlos Miele não há divisórias entre moda, arte e arquitetura. São complementares. A marca que leva seu nome é reconhecida mundialmente por transformar as mulheres em deusas envoltas em volumes, fendas e estampas milimetricamente calculadas, tal e qual um projeto arquitetônico. Estrelas do quilate de Beyoncé, Sarah Jessica Parker e Scarlett Johansson já desfilaram vaporosas nos mais incensados tapetes vermelhos do globo. Outra de suas grifes, a M.Officer sobe à passarela na segunda noite da edição de inverno do Donna Fashion Iguatemi, na próxima quarta-feira.

Com Floripa o paulistano tem uma relação íntima, de carinho, de pertencimento. Entre o verde da mata e o azul das águas da Lagoa da Conceição, idealizou e construiu uma mansão cinematográfica para os escassos momentos de descanso. Em Nova York mantém a base para ampliar os negócios, incluindo a apresentação na semana de moda da Big Apple. Recentemente, Miele, que sempre abusou das artes plásticas em seus desfiles, voltou a lançar uma coleção no Brasil. Por e-mail, falou sobre a Capital, o Donna Fashion Iguatemi, a relação entre moda e arte e as raízes tupiniquins.

Vida em Floripa

Florianópolis é um grande caldeirão cultural, com sua convergência de culturas. Além disso, sua exuberância, diversidade natural e o maravilhoso landscape, fazem da Ilha minha grande inspiração. Minha casa na Lagoa da Conceição foi meu primeiro projeto arquitetônico. Foi difícil achar o lugar perfeito, mas depois que encontrei o terreno, restaurei a mata nativa e desenhei a casa com paredes de vidro para que se integrasse à natureza.

Donna Fashion Iguatemi

Florianópolis é hoje uma das mais importantes referências do Brasil para o mundo, e o Donna Fashion Iguatemi entrou para o calendário brasileiro da moda. Por isso, é um prazer poder fazer parte desse evento em uma cidade com a qual tenho uma relação tão próxima.

Os joinvilenses Diego Miguel e Bárbara Di Creddo na campanha de inverno da M.Officer. Foto: Fabio Bartelt/Divulgação

M.Officer

É minha marca de jeanswear e foi o meu projeto de graduação da faculdade. Comecei com lojas pequenas e de temporada em Campos do Jordão e no Guarujá até conseguir uma loja na Rua Melo Alves, nos Jardins, fazendo coleções voltadas para o público masculino, mas acabei atraindo também a atenção do feminino e criando coleções para os dois segmentos. Hoje são mais de 200 lojas nos principais shoppings centers do Brasil. A marca Carlos Miele, de alta-costura, nasceu da linha noite da M.Officer. Uma das principais características era a presença de elementos artesanais e de materiais tecnológicos como o tecido líquido, desfilado na coleção de verão 1998 pela então new face Gisele Bündchen.

Nova York

A loja Carlos Miele no Meatpacking District foi inaugurada em junho de 2003. O projeto, criado pelo arquiteto e artista visual Hani Rashid, da Asymptote, foi definido pela Time Magazine como um espaço “ao mesmo tempo grandioso e delicado, como se tivesse sido esculpido em gelo derretido, dando a impressão de que as roupas estão flutuando na superfície da água”. Considerada pelo The New York Times como “a paisagem dos sonhos”, a loja se tornou uma das referências da arquitetura contemporânea da cidade, conforme publicado em mais de 20 livros internacionais, como o Architecture Now – 3 e o Absolutely Fabulous, e importantes revistas de arquitetura em diversos países. Ela representou Nova York na Bienal Internacional de Arquitetura e Design e recebeu vários prêmios.

Moda e arte

Sempre fui apaixonado por arte e arquitetura contemporânea e isso se reflete em meu trabalho por meio de formas, volumes, texturas, estampas e movimentos. Gosto de trabalhar em diferentes mídias, sempre em constante experimentação, transitando entre fronteiras e linguagens, concebendo performances de arte – tanto para palcos quanto para ruas, passarelas, seriações fotográficas, livros e roteiros para vídeos de arte. Já tive a oportunidade de apresentar trabalhos em museus e instituições de arte como o The Metropolitan Museum of Art, o The John Kennedy Center for the Performing Arts, o Museu de Arte Contemporânea e a Bienal de Arte de São Paulo. O bom da arte é que ela não tem compromisso com calendários.

Desfiles no Brasil

Acredito que o lançamento de uma coleção deve ocorrer em uma só cidade, devido à agilidade dos meios de comunicação, e valorizo a liberdade do estilista em poder escolher o local para apresentá-la. Depois de 10 anos desfilando em Nova York, fiz meu desfile em São Paulo (em setembro do ano passado) como forma de celebrar e revisitar minhas raízes.