Foi a querida amiga Lair Bernardoni, fotógrafa internacional, quem me apresentou a ele, Júlio de Queiroz, dando-me a ler um dos seus livros mais curiosos: “A História de um Homem com Alzheimer”. Impressiou-me a capacidade de viver a vida deste, sendo absolutamente são. Fui a Florianópolis, para conhecê-lo pessoalmente, quando do lançamento do livro “Treze Cascaes” – grande folclorista ilhéu. E ficamos amigos. Presenteei-o com meu livro “Saborosas Estórias Curtas”. E lhe dei o nosso endereço em São Francisco do Sul, onde tínhamos o Hotel Porto de Paz. Ele não demorou a aparecer para nos visitar e conhecer a 1ª Feira de Livros da Ilha e participar do nosso sarau no Museu Nacional do Mar. Em ambos, gozou das honras merecidas pela sua erudição e participação desprendidas.

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Sua simplicidade e modéstia encantavam. Trouxe-nos uma dezena de seus livros, especialmente de ensaios, e lançou a sua “Seleta – Crônicas, Contos e Poesia” – no sarau em homenagem a Lair, a Marcia e a mim. Fez um belíssimo discurso sobre as obrigações e necessidades de cultura à brasilidade. Meses mais tarde, retornou a São Francisco para lançar os seus extraordinários Ensaios, nos quais homenageou Marcia com um sobre a “Mulher na Humanidade”, que já apresentara no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, com abundantes aplausos e crítica muito positiva e farta.

A mim, talvez pela idade, deu-me um ensaio sobre em que era, também, um especialista: “Morrer – Para Principiantes e Repetentes”, no qual se pode apreciar a morte desde a antiguidade. E, indagado pela minha curiosidade, contou-me, quase em segredo, que, como celibatário e monge beneditino oblato, costuma descobrir pessoas terminais e as prepara para a hora fatal, assim como, igualmente, visitava pacientes de Alzheimer para consolar os familiares e os próprios pacientes.

Júlio viveu mais de 90 anos e morreu agora em junho. Morreu, não! Foi alçado às estrelas, como bem o disse a amiga Lair. Modesto e fiel às suas convicções pelas teorias de Max Planck, não quis homenagens a que tinha inquestionável direito e pediu para ser cremado. Obediente à Regra de São Bento. Homenagens na Sessão da Saudade da Academia Catarinense de Letras, da qual era membro proeminente.

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