Foi uma das mais decepcionantes surpresas conhecer o aterro do canal do Linguado. Abelardo Ganancinha, meu fiel escudeiro durante trinta e seis anos, contou-me que conhecera o Linguado quando ainda havia a ponte que ligava a Ilha de São Francisco ao continente, via Paraty, hoje Araquari. E que a sua correnteza era algo espetacular pela força. E que o encontro das águas de Barra Velha com as do Linguado formou uma ilhota conhecida como Banco da Galharada. Hoje desaparecido!
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Para mim, era, simplesmente, um crime ecológico, cometido por empresários adeptos do dr. Nereu Ramos na eleição de 1935 e que, assim, recebiam a sua recompensa pelo apoio ao candidato vencedor, vendendo carradas e mais carradas de barro, pedra e, por fim, barcaças para fechar o acidente natural, em prejuízo de toda a região. E a ponte, perguntarão os que se lembram dela, linda, móvel para permitir o trânsito de embarcações pelo canal que tinha mais de 15 metros de profundidade? Ninguém dá notícia.
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Não havia a Lava-jato ainda. Intrigado com aquele crime, procurei mais informações. E descobri dois cidadãos que haviam assistido ao fechamento (o professor João Romário, residente em Guaramirim e pai de dois amigos meus — o Nery (assassinado na rua da cidade) e o Plínio, colega de faculdade). O professor disse-me que na malsinada ocasião, o outro assistente — um holandês de nome, se não me engano, Doconaw, teria comentado “não sabem o preço que irão pagar por este crime…” Estamos pagando até hoje, desde 1935! E solução alguma. Pelo contrário, serviu como escudo para não termos, até agora, a duplicação da BR-280.
Mas não desisti de pensar em uma solução para reaproveitar a imensa área formada pelas duas lagunas, hoje com apenas 15 centímetros de profundidade. Que tal fechar a boca do antigo canal frente à baía da Babitonga, impedindo o aumento da poluição e deixando secar o solo para se ter uma imensa área enxuta, coberta pela areia do mar, pavimentada, onde se fariam loteamentos, igrejas, clubes náuticos, colégios, UPAs, etc.?
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A reconquista deste tipo de área tem sido feita (praça Dr. Geraldo Salles e Ginásio de Esportes Abel Schulz, em Joinville), nos Estados Unidos (Miami), na Europa (Holanda e Turquia), ainda mais com a tecnologia atual. E por empreendedores privados, que ganham oceanos de dinheiro. A exemplo dos donos da Beira-mar Norte.