Foi um excelente prefeito, que sacrificou a sua boa saúde pela sua cidade e a sua gente. Foi levado à Capital pelo governador eleito pelo seu partido e por sua ajuda na campanha, graças ao pres-tígio e à dedicação, embora, naquela, a vez deveria ser sua, com o que se resignou em troca de uma cargo no primeiro escalão. Aceitou a Secretaria de Obras.
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Foi à Capital para ocupar o cargo, meio contra a vontade pessoal e a do partido. Já no primeiro dia de trabalho, ganhou o apelido – sempre colocado em quem tinha algum sestro, mania ou desequilíbrio – que os manezinhos, herdeiros dos açorianos, não deixa- vam de aplicar.
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Ao chegar à repartição, viu os trabalhadores da mesma sentados no meio-fio.
– Que estão fazendo aí?
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Um deles respondeu:
– Estamos esperando dar a hora!
– Comigo não tem nada disso. Chegou, entra pra trabalhar. Já pra dentro todo mundo que não quiser despedido.
Os trabalhadores obedeceram, tramando vingança silen-ciosamente. Ao bater o ponto, conferiram a hora. Nem bem sete, ainda. E sempre começavam às sete e meia.O secretário embarcou no seu automóvel, arrancou queimando pneus e foi ao prédio das secretarias, onde tinha gabinete e garagem.
Às dez e meia, o Chico Padeiro, que era seu secretário particular, veio assustado, às pressas, dizer-lhe que o sistema de esgoto da Capital não estava funcionando. E mais: que os trabalhadores da sua secretaria, aqueles que mandara trabalhar antes da hora, haviam fe-chado o registro do esgoto e que só eles sabiam como abrir e fazer funcionar.
– Tira o carro da garagem que já vou lá ver o que eles estão pensando.
– Tenha calma, doutor. Foi uma pequena amostra do que podem fazer se não forem bem tratados. Isto aqui não é a sua empresa. E, se per-mite, vou repetir o que estão dizendo.
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– Diga!
-Vamos domar este lobo mau e lhe colocar uma coleira bem apertada, sem folga, pra aprender que nós não somos aqueles galegos lá da cidade dele. Nós somos muito manezinhos, goste ou não! Gente macha! Muito macha!