Há uns 65 anos, na porta do famoso Bar Príncipe, na praça 15 de Florianópolis, meu primo Cesar Vieira Ouriques me apresentou um jovem que vinha estudar direito na já famosa faculdade da rua Esteves Jr., que seria mais tarde incorporada à UFSC. Mas, além de direito, queria aprender a ler e a escrever boa literatura e me procurou porque eu pertencia ao Grupo Literário Farrapos, do qual sairiam talentos como Silveira de Souza, Hugo Mund Jr. e Adolpho Boos. E, modéstia à parte, eu. Imediatamente, nos uniu o gosto pela leitura e pela redação. Um gosto prazeroso, nunca desmentido nestes anos todos, durante os quais trocamos obras pessoais e de autores famosos. Uma amizade sem suspeitas.

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Depois de advogar na região de Campos Novos, sua terra natal, especialmente no Tribunal do Júri, em que brilhou pela oratória e pela cultura, resolveu fazer concurso para o Ministério Público, não encontrando dificuldade para se classificar e iniciar uma nova carreira com folga para a literatura. Inclusive jurídica. Foi um nunca mais parar de ler, pesquisar e escrever, completando quarenta anos nestas atividades. Comemorou lançando a “Antologia de Contos”, esgotada, que o torna um Tito Carvalho, nosso maior regionalista e já falecido, com os enredos da sua região, nos quais apanha os seus costumes, linguajar e a vivência, as quais estão desaparecendo. Todos os contos, porém, muito bem elaborados. O que mereceu, nas orelhas, apreciação valiosa de Mário Pereira, da Academia Catarinense de Letras, traçando o retrato literário de Enéas Athanázio.

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A leitura deveria começar pelos contos “O Guardamento do Último Vigianó” ou “Mulher de Bigode”. Ambos dão uma visão do regionalismo de Enéas. A literatura catarinense está de parabéns com este êmulo de Simões Lopes. Que, no seu estilo, preenche uma lacuna muito sentida desde Tito Carvalho. Talvez porque o campo está desaparecendo, como foi descrito por eles, sofrendo transformação cultural pelas máquinas e pela tecnologia.

Por último: a caprichada capa dá uma ideia dos Campos Gerais do Planalto Catarinense, cenário dos contos. No dia 23, às 19h30, Enéas fará uma palestra no Salão Mozart da Lyra, o palácio municipal da cultura joinvilense, a convite da Academia Joinvilense de Letras.

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