Aos dois anos de formado, 1958, li de um fôlego o livro que mais me impressionou em termos de prisionato: “Ilha do Diabo – Fuga de um Condenado da Ilha de Caiena – Guiana Francesa” – escrito pelo único que o conseguiu: René Belbenoît. Depois, vieram “Recordação da Casa dos Mortos”, de Dostoiévski; “O Processo” e “O Castelo”, de Franz Kafka; “O Tribunal do Bem”, de Gabriel Nissim, sobre os campos de concentração e de extermínio nazistas.

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Nenhum me impressionou tanto ou mais do que este do Dr. Drauzio Varella: “Carcereiros”, editado pela Companhia das Letras. Certamente premido pelas sublevações prisionais, cujos motivos ele expõe nesta obra, tornando dispensável as firulas de ministros, diretores de penitenciárias, juristas de fancaria e políticos em busca de mídia. As histórias contadas por carcereiros e reunidas neste volume dispensam qualquer comissão convocada para dar seus palpites infelizes. Não bastasse o que tem dito e escrito o nosso meritíssimo juiz Dr. João Marcos Buch sobre o sistema carcerário nacional, de fazer beneditino de pedra chorar.

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No livro “Carcereiros”, Drauzio Varella não inventa nada; limita-se a recontar as histórias que ouviu de funcionários de várias penitenciárias nacionais, parecendo rendeira, em que uma copia a outra, na igualdade dos tratamentos aos funcionários e aos reclusos das penitenciárias. Só Deus teria coragem de testemunhar. E sob juramento, para merecer crédito à sua versão. Não invenções sobre estas ilhas do diabo que o livro René Belbenoît conseguiu desativar como seu livro de memórias. São tão impressionantes e chocantes os relatos, que puseram em xeque a cultura da França perante o mundo civilizado de então – 1958!

Os campos de concentração e extermínio nazistas foram destruídos pelos Aliados como parte da sua vitória sobre as forças do Eixo. E, também, poucos acreditavam nas suas existências. Para “Ilha do Diabo”, bastou a publicação de um livro, escrito por um prisioneiro que conseguiu fugir. O único! Mas que fez o mundo civilizado obrigar a altiva e culta França campeã da liberdade a desativá-la como prisão. Na qual esteve e foi libertado graças a Émile Zola, o inocente Dreyfus, lá encarcerado por antissemitismo. Drauzio dá a solução com uma pergunta: por que não é obrigatório o trabalho técnico como parte da pena?

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