Éramos deputados federais do Grande Oriente do Brasil, eleitos pela nossa loja e pelo grão-mestrado estadual. Íamos com frequência mensal a Brasília, onde se situam o poder central e a soberana assembleia federal legislativa. Era um encontro nacional de irmãos, que se abraçavam ritualisticamente, trocando cumprimentos e perguntas pertinentes à saúde, à família e às atividades em lojas nos orientes respectivos.

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Apesar da seriedade das sessões, contando com mais de 500 irmãos de todos os graus acima do de mestre, todos devidamente paramentados, sempre havia uma gaiatice. O bom humor maçônico nunca esteve ausente. Em especial, quando estava presente o irmão conhecido por Ari Charuto, irmão há mais de 60 anos, que sempre tinha uma brincadeira na ponta do famoso charuto cubano, apagado e mastigado. E era respeitadíssimo por sua vida profana e na fraternidade. Fora durante anos ativo e dinâmico presidente da Cruz Vermelha Brasileira, que engrandecia a Augusta e o enaltecia pessoalmente pelo recebi-mento de medalhas e diplomas. Um exemplo!

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Em uma das sessões, no período de chuvas em Brasília, iniciados os trabalhos, um irmão fez sinal ao mestre de cerimônias, chamando-o. Ele, sempre atento, veio e per-guntou o que desejava.

– Temos goteira (é o indivíduo que não é iniciado na maçonaria e tenta se fazer passar por maçom. O termo provavelmente tem origem na tentativa de infiltração desse indivíduo entre os maçons, como a água da chuva se infiltra no telhado das casas, formando a goteira.

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– Onde, onde, onde? – perguntou, aflitíssimo.

Imagine-se um goteira ouvindo, indiscretamente, as discussões importantíssimas entre represen-tantes legislativos da sagrada fraternidade, cujo sigilo é uma das suas mais importantes regras desde Hiram e São João Batista, que foram sacrificados pelo seu silêncio. Que se tornou obrigação.

Aquilo chamou a atenção de muitos irmãos mais curiosos. E o irmão deputado, apontando o dedo para o teto, mostrou de onde vinham os pingos.

Ouviu-se uma grande e gostosa gargalhada…