Uma humorística mensagem do secretário Dr. Carlos Adauto Virmond sobre emprego na Nestlé trouxe-me a lembrança de que fui candidato a um, quando a Nestlé resolveu instalar escritório em Florianópolis e eu estava concluindo o científico no Colégio Estadual, à noite. Tinha, pois, o dia inteiro para a firma. Depois de tomar informações sobre a vaga e as exigências, compareci, no dia e na hora certa, para o teste. Afinal, era em uma multinacional (Nestlé). Um empregão numa terra de funcionalismo.
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Segundo entendi, a prova inicial seria de datilografia. Não havia, ainda, computador. No dia e na hora cravada, estava lá, prontinho. Havia passado quase dois meses treinando datilografia em uma Evereste, italiana, que tio Olímpio havia recebido em penhor de um freguês de empréstimos. O Hilton, meu cunhado que era um bamba em teclados, conseguiu-me um manual do Senac para aprender corretamente a arte exigida pelo concurso.
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Fiquei afiadíssimo: datilografava com os dez dedos e sem olhar para o teclado. Na manhã aprazada, fui um dos primeiros a chegar e apresentar a ficha de inscrição com a taxa paga (multinacional é outra coisa!). Chamado pelo número, apresentei-me.
Indicaram-me uma escrivaninha, onde deveria realizar o teste em uma máquina de escrever Remington, já com o papel para a datilografia no rolo. Em seguida, um funcionário veio distribuindo texto para a prova. E foi dito que deveríamos lê-lo para copiá-lo.
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Baixei a cabeça e os olhos no texto e o fui datilografando tão rapidamente como poderia. Ninguém mais rápido! Inclusive para ler o que era uma crônica sobre a Suíça, de umas vinte e cinco linhas e a respeito do seu herói máximo – Guilherme Tell – aquele arqueiro que partiu em duas a maçã na cabeça do próprio filho, façanha executada a uma distância de cinquenta metros. O feito era um aviso aos que se aventurassem a invadir a Suíça pelos Alpes. Hitler perguntou ao presidente helvético o que faria se 500 soldados nazistas invadissem sua pátria. Respondeu: “Mandaria cem arqueiros com cinco flechas cada um.”
E quando cheguei à frase final, li: “Não precisa esforçar-se, este texto não deve ser copiado”.