Quando escolhi Joinville, em 1951, durante as festas do Centenário, fi-lo pela sua cultura e coerência étnica. Aquele desfile de bicicletas, um veiculozinho sem maior importância. Que foi de acordo com meu estudo sociológico, já publicado no livro “Nossos Historiadores”, da Academia Joinvilense de Letras, fundamental para seu desenvolvimento e sua pujança. No bom sentido, porque, com a sua substituição pelos veículos a motor, ela começou a perder a sua tranquilidade, o seu agradável provincianismo, a sua familiaridade e as suas raízes étnicas.Vale dizer, a sua milenar cultura trazida pelos colonizadores.
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Não sou eu quem está notando isto apenas agora. Se pudéssemos ler tudo o que escreveu o primeiro jornalista da Colônia – Karl Kostantin Knüppel – veríamos que ele já observara este fenômeno. E se foi para outras paragens, ainda que no Brasil. Viu que o dote à princesa se transformara em mera especulação imobiliária pelo senador Schroeder. Com propaganda enganosa espalhada pela Europa, faminta, empobrecida pelas guerras, espoliada pelos barões, príncipes, generais… E publicou no seu jornal “O Observador às Margens do Rio Mathias”.
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Até 2000, esta desgermanização da Colônia foi a par e passo. Daí, houve um surto pelo número de veículos a motor, espigões, estacionamentos e aumento abrupto da população. O que sobrava para todos começou a faltar: tiveram início a favelização; a ocupação de mangues (áreas de preservação permanente, maternidade da vida marinha), a subida de morros; a devastação da mata atlântica… Como se fora um novo eldorado, Joinville quintuplicou a sua população útil e inútil, esta que põe em risco a segurança. Enterraram-se a boa familiaridade, o provincianismo puro, a dieta colonial doméstica e pública.
Hoje, parece-me, só existe um local resistindo ao fast food: o Hubener, na Dona Francisca. Um passeio pela nossa bem preservada zona rural. Nele se encontram autênticos pratos da vovó, da mamãe, da madrinha: Gelee, marreco, chimia e Schnaps; conhecidos que se falam após cumprimentos cordiais e perguntas sociais, sem música ensurdecedora. Parece ser o último refúgio dos que conheceram e viveram a Joinville de 1951/2000. E onde matam saudades.
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