Há pessoas que, mesmo simples, têm uma tal personalidade capaz de as fazer conhecidas e reconhecidas por um simples nome: Napoleão, Wellington, Getúlio, Lula. Há outros que só o são por seu nome inteiro: Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer, Dilma Rousseff…
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Seu nome inteiro era Alaor Lino da Silva, mas nos bastava o do meio: Lino! Quando faleceu, me telefonaram perguntando se o conhecera. Respondi pronunciando o nome inteiro. Morreu, disse a voz do outro lado. Foi grande amigo, simples, cavalheiresco, excelente jornalista e editor de “A Notícia”, dos melhores que ela teve. À exceção do saudoso e inesquecível Juca Ramos, que enfrentou os açambarcadores joinvilenses em defesa dos consumidores, como um Cyrano de Bergérac, Lino foi o único que se preocupou em compensar os colaboradores avulsos com um salário mensal simbólico, mas muito bem-vindo e que permitiu uma perfídia com ele. Reclamei por não haver recebido o meu naquele mês. E lhe disse que dele precisava, porque com este óbulo sustentava dois excepcionais. Ele mandou o tesoureiro providenciar o meu pagamento.
Lino era, também, poeta bissexto e repentista. Vivia poetando no serviço que deixou por haver sido aprovado com distinção para o Banco do Brasil (um empregão, difícil de se conseguir sem pistolão à época). Ele não precisou. Apesar de residirmos na mesma cidade, muito pouco nos víamos, infelizmente. E nos vimos no dia em que ele descobriu a minha perfídia, perguntando:
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— E aqueles dois excepcionais que sustentavas?
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— Ajudava a sustentar. Tinham mãe advogada e foram estudar fora; um na Alemanha, direito ambiental: outro em Curitiba, na Federal de Engenharia.
“Teus filhos, sacana!”
E me abraçou fraternalmente. Gente deste gabarito só nasce uma vez! Não morre, transforma-se em energia quântica positiva para nos socorrer em apuros. É só fazer um gesto reikiano, pronunciando as palavras cabalísticas. Já os fiz e as pronunciei em favor dele mesmo para repousar — se necessário — à sombra do Grande Arquiteto do Universo. Para consolo de sua família, para mim, ainda, infelizmente desconhecida. Mas merecedora incondicional desta singela e sincera homenagem.