O dr. Pedro de Moura Ferro nos dava aulas, pela manhã, na saudosa Faculdade de Direito de Santa Catarina, hoje incorporada à Universidade Federal. Era afamado causídico e a fama lhe viera da competência, da cultura jurídica e da probidade absoluta. Nós, que viéramos do Colégio Estadual Dias Velho e fôramos aprovados no vestibular, formávamos um grupo à parte na classe, continuando a estudar juntos, trocar pontos nas apostilas e a alcançar boas notas.
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Numa manhã, resolvemos fazer consulta extracurricular ao dr. Moura Ferro após a sua aula. Recebeu-nos com a sua natural gentileza na sala dos professores e nos ouviu a razão de estarmos ali. Respondeu-nos:
– Melhor no escritório. Já vou para lá. Quem chegar antes, espera.
Descemos a Álvaro de Carvalho e fomos para o seu escritório no Edifício Amélia Neto, na Felipe Schmidt. Já nos esperava e nos mandou entrar. Ouviu a pergunta pela voz do Baião, o mais interessado na resposta e nô-la deu de pronto.
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Satisfeitos, levantamo-nos, despedimo-nos e íamos saindo, quando lhe perguntei – por pura precaução – se lhe devíamos algo.
– Sim, sim, vinte cruzeiros da consulta.
Era um dinheirão à época. Coçamo-nos e adiantei-me, tirando a pelega do bolso. Entreguei-a, agradecendo e pedindo desculpas. Fora do escritório, resmungamos:
– Professor mão de boneca. Cobrar consulta de alunos…
Descemos à rua. Conformamo-nos de ter atendido. Na aula seguinte, já havíamos espalhado o acontecido entre os colegas. E fomos gozados! Ele entrou na aula, cumprimentou-nos com o seu tradicional bom-dia e, sentando-se, começou:
– Ontem, tive a honra de ser procurado por alunos que desejavam resposta a uma consulta. Resolvi, antes de dar a resposta, dar-lhes algumas lições para a vida profissional. Não os atendi aqui, na faculdade, mas os mandei ao meu escritório. Lá, lhes respondi à questão e, quando saíam, cobrei-lhes a consulta. Aqui estão os vinte cruzeiros a serem devolvidos. Tome, Carlos Adauto.
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– Advogado não dá consulta fora do escritório e cobra sempre a consulta. Relógio é que trabalha sem receber mais do que a corda…
Aplaudimo-lo de pé!