Em estratégia de campanha montada na apresentação de ações do seu governo (2009-2012), o único na história do PT em Joinville, e na abordagem da ‘experiência’, o petista Carlito Merss disputa a Prefeitura de Joinville pela sétima vez. Ele abre a série de entrevistas de ‘AN’ com os candidatos a prefeito. O critério de publicação foi a ordem alfabética. Continua depois da publicidade
Com mandatos consecutivos durante duas décadas, entre 1993 e 2012, de vereador a prefeito, passando também pela Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados, Carlito, 61 anos, tem formação em economia e foi professor.
Nesta entrevista, o candidato escancara, mais uma vez, as mágoas. Nessa lista, é incluída a cassação do registro por causa de gasto com publicidade (decisão revertida depois pelo TSE), e a imprensa. O petista se diz vítima de um movimento orquestrado contra o seu governo. Mas também reconhece erros, um deles estaria na forma de comunicar, como cita nesta conversa com “AN”. Continua depois da publicidade
Agora, o candidato tem de enfrentar o desgaste do seu partido na esfera nacional, situação que motivou até uma inserção no horário eleitoral para explicar que não é de ‘abandonar o barco’. A crise petista dificultou a conquista de alianças, levando Carlito a concorrer sem coligação – assim como fez quando concorreu pela primeira vez a prefeito, em 1988.
Confira a série de entrevistas com os candidatos a prefeito de Joinville em 2016
A Notícia – Em 2012 o senhor disse que tinha uma grande frustração e que não pretendia mais disputar eleição. O que aconteceu?
Carlito Merss – Imagina, eu sofri um golpe. Eu consegui fazer uma belíssima chapa, equilibrada. Unificamos o PT depois de termos apanhado nas eleições de 2010. A gente juntou os casos e se uniu. Só não ficamos com um cara que não era do PT, o Adilson Mariano. Montamos uma bela aliança e tínhamos o maior tempo de TV. O que foi o massacre do PIG (Partido da Imprensa Golpista) desde janeiro de 2009: “o Carlito não está fazendo nada, o Carlito não está fazendo nada”. AN – O que estava sendo feito?
Carlito – A gente se matando naquela chuvarada, peguei uma chuva violenta em janeiro e em março, quase cancelamos o desfile. E nós fazendo coisas… Como é que a gente conseguiu colocar um PA em funcionamento? Foram mais de R$ 2 milhões, tive que remanejar, tudo para colocar em funcionamento. Foi uma opção em algo que não tinha prometido. Fomos agora gravar no rio Velho e no rio do Braço. É assustador. Nós fizemos a limpeza e vai lá ver como está hoje. Deram umas cortadas no mato e não fizeram mais nada. Continua depois da publicidade
AN – Mas qual a frustração?
Carlito – Nós trabalhamos muito, mas a marca que pegou, que nos prejudicou já nas eleições de 2010, foi de que o Carlito não estava fazendo nada e tal. Em 2012, a nossa marca foi sobre a verdade e com sete programas que foram ao ar, nós tínhamos uma pesquisa qualitativa naquele maldito sábado (cassação do registro da candidatura devido a alegação de gasto acima da média em publicidade em ano eleitoral – Carlito foi absolvido depois pelo TSE) que mostrava que nós já tínhamos descolado do Udo, tínhamos passado. A gente mostrou o que foi feito. Daí vem a cassação do registro e fica duas semanas nisso. O PMDB, que é eficientíssimo nesse jogo de bastidores, ficou no discurso do “não adianta votar no Carlito, está cassado” e isso matou a gente. Ficamos com 20%. Isso machuca muito porque fizemos um trabalho sério. Foi um golpe, fomos roubados. É dose. E depois de um ano e meio, você pega a decisão do TSE e é absolvido por unanimidade. AN – Por que o senhor reconheceu a dívida com as empresas de ônibus no final do seu governo?
Carlito – Porque não tem outro modelo, não fizemos nada errado. Contratamos os bam-bam-bans, contratamos consultoria e nos baseamos em Curitiba. Outras cidades também fizeram assim, sei que tem de ter uma indenização. Todos os estudos feitos davam em dívida de R$ 120 milhões. AN – Mas por que a decisão sobre o reconhecimento não foi deixada para o novo governo?
Carlito – Não tinha porque correr da raia. O que o Tebaldi fez comigo? Deixou os caras com dois anos e três meses sem reajuste e a tarifa tinha reajuste anual. Na transição, falei para o Udo que não faria com ele o que o Tebaldi fez comigo. E ele foi lá em janeiro e cancelou. Sei o preço político que paguei, tive que dar o reajuste no início do governo. As planilhas estavam corretas. AN – Onde é que é o gargalo da saúde? É o hospital São José?
Carlito – Me diz outro município no Estado que tenha um hospital municipal com essa qualificação, especialista em trauma? Ocorre acidente e as pessoas vão para lá. Claro que a tabela do SUS é insatisfatória e vai continuar sendo. Mas o que é pago aos médicos pelos planos de saúde também é insatisfatório e são uma das categorias mais organizadas. É que a lógica não é de prevenção e a lógica do SUS é de prevenção. A concepção básica do SUS é de prevenção. Você monta uma estrutura de hospital, depois de uma unidade de pronto-atendimento, depois de uma unidade básica e depois ainda tem o que era para estar cobrindo mais gente, chegou a 40%, que é o Saúde da Família. Se a cada dez pessoas que são visitadas todos os meses, você conseguir evitar um AVC, já compensa. Continua depois da publicidade AN – Como dá pra melhorar?
Carlito – A gestão continua sendo o grande problema. Você não pode aceitar que um cara de manhã vá no Itinga e não seja atendido; depois vá no Floresta e também não consiga o atestado; só vá ser atendido, quem sabe, no final do dia lá no Paranaguamirim. Mas parece que existem forças terríveis que não querem que a gente faça o básico. AN – Mas que força seriam essas?
Carlito – Quem teria interesse que o sistema não funcionasse? Porque na terceira vez que você vai lá e só vê fila, você junta a família – eu ouvi casos e mais casos assim – e daí cada um dá um dinheirinho e o atendimento acaba sendo feito lá no hospital privado. Isso é uma prática. Dá uma olhadinha no movimento. O que aconteceu agora é que aumentou bastante o número de pessoas que perderam o plano de saúde – vão aí mais de 10 mil pessoas que perderam o emprego e o plano de saúde e precisam ser atendidas. AN – O atual governo se queixa de ter recebido dívidas…
Carlito – Nem quero entrar nesse debate. O cara confundir dívida com fornecedores com dívida de financiamentos, a dívida fundada. Não é possível que um cara que se chama administrador queira fazer essa confusão. Mas isso não é o principal problema, dá 2% ou 3%. O problema é eu ter recebido a Prefeitura com 52% de comprometimento da receita corrente líquida com a folha (dos salários). AN – Por quê?
Carlito – Isso é terrível. Você só tem uma forma de resolver, que é ampliar o mínimo possível. Não é à toa que ele não quer colocar um PA para funcionar (referência à UPA que o governo Udo decidiu não construir). O que o Tebaldi fez: em agosto de 2008, se não me engano, ele tascou um aumento (também foi aprovado o plano de cargos e salários e o estatuto do servidor). Então ele pagou outubro, novembro e dezembro. Teve quem dobrou o salário. E eu, vou ser contra isso? Não. Só que me arrebentei. Continua depois da publicidade AN – Mas como enfrentar esse comprometimento?
Carlito – Você só tem duas formas de enfrentar isso. Estabilizando o gasto, o que é difícil, a folha tem triênios etc. e aumentando a receita. Nós ficamos esnobando durante 30 anos, que IPTU e ISS não valiam nada, caixa de cigarro, o ICMS pagava tudo. Mas começaram a abrir empresas em volta, em Araquari, Barra Velha, (o que implica ICMS menor para Joinvile). Fui atrás do IPTU. A planta nossa continua ridícula. Daí olhei uma lei maravilhosa do Freitag, de desconto no IPTU para quem tem calçada. Aí começamos a fazer um levantamento, tínhamos lojas no Centro com as calçadas todas arrebentadas, fizemos a notificação e quem não tiver a calçada dentro do padrão não vai ter mais direito ao desconto no IPTU. Lembra da reação? Nossa! AN – No horário eleitoral, há menções a erros cometidos. Quais foram?
Carlito – Talvez tenha sido um erro comunicar a cobrança de multa das calçadas daquela forma. Mas o MP me exigia calçada e era o morador que tinha de fazer. AN – Mas qual foi o erro?
Carlito – Nossa grande dificuldade foi a comunicação. Veio aquela coisa organizada e sistemática para destruir, para desconstruir minha imagem. E o que a gente usava? Usava a Secretaria de Comunicação (Secom) para as explicações. Se a Secom não está fechadinha com os jornais, não adianta. Agora mudou, veja o que aconteceu nesses quatro anos. Não é possível. AN – O que aconteceu?
Carlito – Vamos falar do debate de obras. Como é que uma imprensa independente não pega esse progama (do Udo) que ele falou que “construímos uma escola para mil alunos no Jardim Paraíso”. Uma imprensa independente vai lá, vê e diz, “opa, mentira”. Essa escola (Professora Thereza Mazzoli) foi construída por mim, entregue (as aulas começaram em 2013, mas a construção estava pronta desde 2012, diz). O segundo Restaurante Popular eu entreguei, só faltavam os móveis. Daí o que eles fizeram? Fecharam o restaurante do Bucarein. Está há quatro anos em reformas, e levaram os equipamentos para o Adhemar Garcia. Olha o rotativo, Joinville está há quatro anos sem isso. No transporte coletivo, deixamos a licitação pronta e não foi feita. E ninguém cobra nada. Cadê a Acij? Quando a Justiça nos obrigou a transformar a Conurb em Ittran ficamos uma semana sem o rotativo para fazer a transição. Daí foi aquilo, “que bagunça”, o mundo acabou. Deixa eu citar um exemplo mais recente: o binário da Santos Dumont com a Tenente Antônio João. O óbvio do óbvio que tinha de ser feito. Daí impediram, não pude mexer. Agora, será feito aquilo que a gente queria fazer há quatro anos, o binário. Aquela mexida que fizeram no Mercado Público é assustadora. Foi interrompida uma via rápida. Vamos acabar com aquilo. Continua depois da publicidade AN – Quais obras de mobilidade são necessárias em Joinville?
Carlito – Três elevados são necessários. Na Paulo Schroeder com a Boehmerwald é necessário. É simples. O segundo é mais complexo, da Marquês de Olinda com a Ottokar Doerffel. É quase impossível duplicar a Marquês, os terrenos são valiosos, minha dúvida técnica é se o elevado é pela Marquês cruzando sobre a Ottokar ou ao contrário. O outro é da Tuiuti com a Santos Dumont, que espero, seja concluído pelo Estado. AN – Por que as metas de pavimentação sumiram dos planos de governo?
Carlito – Porque tem de parar de fazer demagogia. O asfalto é simples, vi que voltaram a jogar aquele piche. Nós não colocamos (meta) porque não podemos mentir. Por que vocês não cobram, não fazem um promessômetro sobre os 300 quilômetros de asfalto (alusão à promessa do Udo de 2012). Eu nunca me esqueço de um debate, em que falei para o Udo que ele não podia pensar que administrar uma Prefeitura é a mesma coisa que administrar uma fábrica. Ele ganhou a eleição com esse papo de que não falta dinheiro e sim gestão. Ele levou quatro anos para descobrir que não tem dinheiro? Eu falava, Joinville é uma cidade rica com uma prefeitura pobre, só 2%, 3% para investimentos. AN – Quais são as prioridades do início de sua gestão, em caso de vitória?
Carlito – Vou retomar a UPA do Vila Nova, mesmo sabendo que o ministro da Saúde golpista é contra o SUS. Isso é uma questão pessoal, é injusto o que está acontecendo com aquela comunidade. Vamos fazer a licitação do ônibus e também do rotativo, que é mais simples. Isso é uma piada, fui na CDL e os comerciantes estão envergonhados. Carlito Merss
Partido: PT
Vice: Francisco de Assis (PT)
Sem coligação
Mote da campanha: Em campanha “sem marketing”, Carlito tem usado o horário eleitoral para mostrar ações de seu governo, citando também a herança bendita deixada ao sucessor, como obras iniciadas e projetos encaminhados – a expansão do saneamento é apontada por ele como principal realização. Defende a volta do Orçamento Participativo e adoção de PPPs para gestão de equipamentos públicos. Continua depois da publicidade