Nunca se viu tanta caricatura nesta “jabuticaba” bem brasileira do horário eleitoral obrigatório. Em São Paulo, um Tiririca vestido de palhaço invade a sala do eleitor com um aviso:
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– Enganei vocês!
E se explica:
– Pensaram que eu tinha sumido? Olha eu aqui!
O palhaço referia-se à campanha para a sua reeleição, depois que anunciara a sua “desistência da vida pública”, ao cabo de “quatro anos inúteis, mas muito bem pagos”.
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– Adivinha quem voltou? – diverte-se.
E, em sua imensa desfaçatez, admite:
– Não há moleza melhor remunerada do que ser um deputado federal. Não precisa fazer nada e ainda ganha um dinheirão!
O candidato do PR comete “sincericídio”, revelando como “foi convencido a voltar”:
– O pessoal me explicou que o meu provável milhão de votos vai ajudar a legenda a eleger um time inteiro de mandriões!
Pois é, eleitor. A tão desejada “renovação” deste Congresso de aproveitadores da nação começa pelo palhaço. Com a nossa ajuda, que pagamos pelo “horário”.
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Contando-se os dois turnos, meia hora todos os dias ao longo de 45 dias, em horário nobre. Sem falar nos horários vespertinos e matutinos. Um exagero.
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Durante um mês e meio os telejornais serão expulsos da sala de visitas do contribuinte e – zás! – entram os candidatos de partidos nem sempre “verdadeiros”, meras ficções ou alegorias pouco sérias.
Sendo a TV uma concessão do Estado – e cabendo a este bancar a conta, mediante “renúncia fiscal” – chega-se à conclusão, óbvia, de que a fatura é dividida por cada contribuinte.
Instala-se, então, um paradoxo: o contribuinte “paga” até mesmo para ouvir o candidato por quem nutre completa ojeriza. O charlatão que gostaria de ver banido da política.
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Não existe, em país algum do mundo, programa “gratuito” em horário nobre, franqueado à guerra de mentiras, meias-verdades ou desmentidos. O que deveria haver – isto sim – é a normatização eficaz dos debates, para que o “contraditório” fosse exercido, “ao vivo”, para o juízo do telespectador.
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Como a lei eleitoral muda todos os anos, ao sabor da conveniência dos senhores legisladores – mas, ultimamente, “interpretada” com algum protagonismo pelos tribunais –, que tal consultar a sério o principal interessado – ele mesmo, o paciente eleitor?
Todos haveriam de escolher os debates. Os candidatos a governador e presidente se mostrariam “como são”, em debates televisivos conduzidos, como têm sido, pela mídia, sem a interferência de marqueteiros.
Fora disso, é ultraje à inteligência de quem paga.
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