Era 1977, ditadura militar, quando o catarinense Tarcísio Eberhardt foi preso por participar de um evento de universitários que queriam reorganizar o movimento estudantil. Tarcísio fazia faculdade de História na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Morava em uma república e conta que teve a casa revistada por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops).
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Qualquer livro considerado suspeito poderia resultar em prisão:
– Tinha que esconder qualquer livro relacionado ao marxismo, por exemplo – afirma Tarcísio.
Deixou a universidade porque precisava trabalhar, mas continuou tendo problemas por causa da ditadura. Trabalhou como metalúrgico em Campinas e foi demitido depois de participar de uma eleição ao sindicato na chapa de oposição. Depois de meses procurando emprego sem sucesso em São Paulo, voltou a Santa Catarina e tornou-se autônomo.
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A história de Tarcísio com a ditadura e de outras 30 pessoas que se sentiram prejudicadas pela ditadura serão julgados amanhã, numa sessão da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, na Faculdade Cesusc, em Florianópolis. São requerimentos de pessoas como Tarcísio, que querem que o Estado brasileiro peça perdão pelos erros da ditadura.
Os julgamentos podem resultar, inclusive, em indenização financeira.
– É importante que o país relembre o que aconteceu. Não vai ser escondendo o passado que a gente vai ter um futuro melhor. Existe sempre a possibilidade de retrocesso a uma ditadura, e por isso a gente tem que manter as gerações novas sempre bem informadas – avalia Tarcísio.
Os requerimentos como o de Tarcísio são processos abertos pelos próprios perseguidos ou por seus familiares. Cada processo foi relatado por um dos conselheiros da Comissão da Anistia do ministério e agora será submetido a todo o grupo.
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A sessão que será realizada amanhã faz parte da 59ª Caravana da Anistia – uma iniciativa da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça que percorre os estados para manter viva a memória da história brasileira.
A comissão foi instalada em agosto de 2001 para julgar requerimentos de ex-perseguidos e as caravanas começaram a percorrer o Brasil em 2009.
CONFIRA OS CASOS
Jurandir Pires de Camargo
Era repórter do jornal “O Estado” em Florianópolis/SC. Alega que foi demitido após a cobertura da Novembrada, manifestação contra o então presidente João Baptista Figueiredo, pelo jornal O Estado.
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Sérgio Antonio Flores Rubim
Era repórter do jornal O Estado em Florianópolis/SC. Alega que foi demitido após a cobertura da Novembrada, manifestação contra o então presidente João Baptista Figueiredo.
Arnaldo Camargo de Freitas
Narra que era funcionário da binacional Itaipu e foi demitido por motivação exclusivamente política em decorrência de sua militância no meio estudantil e por ser vereador de partido oposicionista (PMDB).
Altamiro da Luz Andrade Neto
Alega que foi prejudicado na sua carreira profissional por possuir certificado de isenção do serviço militar que designava incapacidade moral em decorrência de ter se declarado homossexual na ocasião do alistamento militar.
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Carlos Alberto Berger e outros
Afirma que o pai era mestre-de-obras e passava pelo centro de Florianópolis quando aderiu a uma manifestação estudantil, sendo, por conseguinte, preso, subjugado e torturado por aproximadamente 30 dias em virtude da participação na aludida manifestação.
Maria Damásio Zeferino Domingos
Afirma que o Anistiando foi monitorado, processado, preso e torturado por motivação exclusivamente política em decorrência da Operação Barriga Verde.
José Roberto de Lima
Militante da Tendência Leninista da Ação Libertadora Nacional preso por conotação exclusivamente política no DOPS de São Paulo no ano de 1974.
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Ironaldo Pereira de Deus
Estudante preso em 17 de abril de 1964, sendo solto somente em outubro do mesmo ano. Foi condenado à um ano de de reclusão.
Manoel de Oliveira Martins
Foi denunciado no processo nº 250/64 sob acusação de pertencer ao Grupo dos 11. foi absolvido em 1967.
Amilton Alexandre
Estudante preso em 1979 por participar da manifestação conhecida como Novembrada. Respondeu à IPM e foi absolvido.
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Ilda Dorini
Viúva de anistiando pleiteia reparação.
José Wilson da Silva Jr
Anistiando sofreu com o exílio de seu pai, morando fora do Brasil e de seu lar, passando por constantes mudanças que o abalaram num período de tenra idade.
Carlos José Gevaerd
Viúva do Anistiando requer em nome do esposo, ex -funcionário do BB e professor da UFSC. Perseguição não deu motivo para desligado, apenas impedimentos. Houve pedido de demissão. Incompatibilidade de acúmulo dos 2 cargos.
Italo Jesiel Pereira da Silva
Ex-agente da PRF, que afirma ter sido perseguido e excluído da PRF por motivos exclusivamente políticos.
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Luiz Ernesto Reis Quaresma
O ex -bancário sofreu inquérito policial e processo judicial, sendo absolvido pelo STM 03-12-74, com trânsito em julgado em 07-01-77.
Zelma Medeiros
Ex-agente da PRF , que afirma ter sido perseguido e excluído da PRF por motivos exclusivamente políticos.
Manoel Pedro Rosa
Anistiando alega que sofreu perseguição, sendo afastado das suas atividades sindicais.
Brigitte Buchli de Sousa
Assessor legislativo da Câmara de Vereadores de Joinville, preso na Operação Barriga Verde.
Maria Lúcia dos Passos Assis
Militante do Movimento Comunista Revolucionário (MCR), preso em dezembro de 1971.
Carlos Correa David
Militar da fileiras da Marinha do Brasil, foi desligado pelo Ato nº 424/1964.
Tarcísio Eberhardt
Militante político e sindical, integrante da liga operária, preso por sua militância.
Ludmila dos Santos Demaria
Comandante da Marinha Mercante, Militante político e sindical, participou da Greve dos cem mil marítimos. Foi preso e teve seus direitos políticos suspensos pelo Ato Institucional nº1
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João José Costa
Preso no DOPS por motivaçao exclusivamente política, por ter praticado atividades consideradas subversivas.
Osni Rocha
Foi preso em 12 de dezembro de 1975 por conta da Operação Barriga Verde e respondeu ao processo nº 749/76, que visava apurar atividades subversivas e comunistas em Santa Catarina.
Divo Fernandes D’oliveira e outros
Pertencia à Marinha Mercante e era integrante do PCB. Foi preso no Rio de Janeiro em abril de 1964. Ao tentar visitá-lo no presídio em 1965, a mulher descobre seu desaparecimento.
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Jaime Aleixo Da Silva e outros
Sucessoras alegam que ele foi preso e acusado de pertencer ao Grupo dos Onze Sirley Baptist Indiciado em IPM em 1970 por colaborar com o funcionamento do Partido Comunista Brasileiro.
Ricardo Przemyslaw
Teve o nome citado na Operação Bom-Bril por ocasião dos interrogatórios dos presos políticos membros do MR-8 e foi denunciado por atividades subversivas.
* Paulo Marcomini: informações sobre o caso não foram divulgadas
** O casos de Antonio João Manfio, militante do movimento estudantil que foi preso no Congresso da UNE em Ibiúna/SP em 1968 e respondeu a Inquérito Policial Militar com base na Lei de Segurança Nacional, e de Helbert Georg, que foi preso em seu escritório de advocacia e condenado a 10 anos de prisão, serão julgados separadamente. Estão em grau de recurso.
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