Quem costuma passar com frequência pelo cruzamento das ruas João Colin e Marechal Deodoro já deve ter visto algumas crianças vestidas com quimono de caratê conversando com motoristas que esperam o sinal verde do semáforo acender. Eles se chamam Mariana Firmo, Eduardo Silveira e Letícia Kato. Aos 13 anos, todos eles já fazem parte da Seleção Brasileira de Karatê (CBK) e têm um sonho em comum: serem lutadores profissionais. Para cada categoria, são dois representantes do Brasil que podem ser classificados, ou seja, os três joinvilenses estão entres os únicos do país selecionados em suas respectivas modalidades.

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Desde cedo, o caminho para esse sonho já têm sido traçado e, para subir os degraus, o próximo passo do trio é o Campeonato Pan-Americano que será disputado entre os dias 27 e 31 de agosto no Equador. É em meio ao movimento de carros que eles encontram a possibilidade para recolher recursos para isso e, assim, conseguirem embarcar no dia 24. Os três precisam arrecadar, pelo menos, R$ 5 mil para arcar com despesas durante os dias em que ficarão lá, já que a confederação garante o uniforme, o valor da inscrição e hotel.

Letícia luta desde os seis anos e faz parte da Seleção Brasileira desde 2018. Neste ano, ela participou do campeonato Sul-Americano, na Bolívia, que garantiu a participação para o Pan-Americano. Ela disputará na modalidade Kumite do caratê, que é a luta com o adversário, na categoria dos 12 aos 13 anos abaixo de 42 quilos. Se ela conseguir atingir a pontuação necessária, Letícia pode representar o Brasil também no campeonato da Liga Mundial a ser realizado em setembro no México, mas já na categoria de 14 anos.

Letícia luta desde os seis anos de idade
Letícia luta desde os seis anos de idade (Foto: Salmo Duarte, A Notícia)

Eduardo pratica o esporte desde os sete anos. Ele também vai representar o Brasil, mas na modalidade Kata, que é uma espécie de luta solo e imaginária, na qual o lutador apresenta movimentos e formas específicas no tatame. Para essa modalidade não há classificação por peso, mas Eduardo deve disputar com adversários de 12 e 13 anos.

Já Mariana começou com cinco anos e teve como inspiração a irmã mais velha. Neste ano, ela participou da disputa em Recife e foi selecionada para compor a dupla da Seleção Brasileira. No campeonato Pan-Americano, ela também vai disputar Kumite na categoria de 12 a 13 anos, mas acima dos 47 quilos.

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Um sonho compartilhado

Mariana Firmo foi quem começou com as arrecadações
Mariana Firmo foi quem começou com as arrecadações (Foto: Salmo Duarte, A Notícia )

Mãe da Mariana, a artesã Eliana Firmo acompanha os adolescentes não só em todas as viagens, mas também nas arrecadações no semáforo. Ela e a filha tiveram a ideia para criar um cartão de visita com os dados da conta para depósito, redes sociais, além de um potinho para arrecadar os trocados. No começo iam apenas as duas.

– Eu comecei a pensar: todos eles (Eduardo e Letícia) também têm o mesmo sonho. Então por que não chama-los? Aí os convidei e agora eles também estão aqui para realizar o sonho junto – diz.

Mesmo diante de algumas recusas, Eliana pontua a força de vontade da filha e dos amigos:

– Ela (Mariana) tem uma garra que é muito dela. No começo, quando ela ouvia um não, ou quando via que as pessoas não se interessavam e sequer abriam a janela, ela ficava um pouco desapontada. Mas comecei a incentivá-la, a dizer que era assim mesmo, mas ela deveria continuar tentando. Hoje, quando acontece algo assim, ela diz: não tem problema se você não tem dinheiro, mas você poderia ficar com o meu cartãozinho? – destaca a mãe.

Caratê é esporte olímpico

Eduardo vai representar o Brasil na modalidade Kata
Eduardo vai representar o Brasil na modalidade Kata (Foto: Salmo Duarte, A Notícia)

Para o professor e técnico Sidnei Maciel, há expectativas sobre a participação dos três. Além disso, como o caratê é um esporte recentemente considerado olímpico, ainda não há a valorização necessária.

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– A persistência e determinação que eles demonstram para conseguir os recursos para a viagem são as mesmas do tatame. Eles lutam de duas a cinco horas por dia, fazem acompanhamento com nutricionista e fisioterapeutas e a perspectiva para eles é a melhor possível – explica o treinador

Sidnei também pontua que uma pergunta frequente é sobre o rendimento escolar dos atletas, mas garante que as viagens e o esporte ajudam.

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