A tradição marítima indica que o capitão é o último a abandonar um navio afundando. Mas é legítimo exigir que uma pessoa nessa situação deixe de lado seus instintos de sobrevivência? Para os marinheiros que navegam os oceanos, a resposta é inequívoca: “Sim”.

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– É uma questão de honra que o chefe seja o último a sair. Esta profissão não admite qualquer outra coisa – disse Jorgen Loren, capitão de um navio de passageiros que circula entre a Suécia e a Dinamarca e presidente da Diretoria Marítima Sueca.

Os marinheiros afirmam que estão chocados com a atitude do capitão Francesco Schettino, acusado de homicídio depois de abandonar o Costa Concordia, navio acidentado no mar da Toscana, enquanto ainda havia passageiros a bordo. A atitude pode lhe custar uma punição de até 12 anos de prisão.

Jim Staples, capitão de navios há 20 anos, disse que os capitães têm o dever de permanecer em seu navio até que não haja mais esperança.

– Estou envergonhado pelo que ele fez – disse, referindo-se a Schettino. – Manchou a imagem de todos, fez-nos ficar mal. É uma vergonha – completou.

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– Schettino deveria ter permanecido a bordo até que soubesse do destino de todos os passageiros – disse Abelardo Pacheco, capitão filipino que foi sequestrado na Somália e que agora dirige um centro de treinamento marítimo em Manila. – Essa é a responsabilidade do capitão, é por isso que lhe são dados todos os privilégios. Mas, ao mesmo tempo, ele tem uma responsabilidade igualmente grande.

O Costa Concordia, que estava transportando 4,2 mil passageiros e mais tripulantes, bateu contra um recife na sexta-feira, depois de Schettino fazer uma manobra não autorizada. Uma gravação de sua conversa com a Guarda Costeira italiana sugere que ele e parte da tripulação escaparam antes que todos os passageiros tivessem deixado o navio e resistiu a repetidas ordens para voltar, dizendo que estava muito escuro. Schettino disse que teria caído em um bote salva-vidas depois de uma queda na água, quando o barco começou a afundar.

O capitão do Costa Concordia está sob prisão domiciliar e os promotores italianos preparam-se para um julgamento.

– Se for considerado culpado, dificilmente ele voltará a comandar um navio – disse Craig Allen, professor da Academia da Guarda Costeira U. S. New Londond, de Connecticut. – Alguns entram em pânico, mas logo recuperam a conduta e fazem o que tem de ser feito. Mas neste caso, Schettino tinha tempo de sobra para superar o momento de pânico. Não o fez por pura covardia.

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