“A SC-401 é um contra-planejamento urbano”, resume Elson Manoel Pereira, professor no curso de Geografia da UFSC. Ele explica que o Plano Diretor aprovado em 1976 previa a expansão da cidade para o Sul da Ilha. Mas o movimento de descentralização acabou sendo o inverso, em direção ao Norte.
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Em 1969, ano da concepção do Plano Diretor aprovado em 1976, a ideia era de que o Centro estava esgotado e de que o Sul da Ilha, na ampla e próxima planície do Campeche, estava a área ideal para o crescimento de Florianópolis. Mas como os políticos e as famílias tradicionais da Capital tinham propriedades no Norte da Ilha, o desenvolvimento da cidade foi mudando de foco, segundo Elson Pereira.
Ao mesmo tempo, construções importantes haviam sido erguidas em direção à região Norte (considerando o tamanho da cidade na época), como a universidade federal (1960), o Hospital Governador Celso Ramos (1966), e a Casa d’Agronômica (1955).
No final da década de 1970, a SC-401 foi a via rápida que substitui a Rodovia Virgílio Várzea, que, como lembra Pereira, ligava o Itacorubi a Canasvieiras, passando pelos bairros. Antes, a rodovia não passava em frente ao local onde hoje está o Floripa Shopping, mas atrás.
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O professor Neri dos Santos, do departamento de Engenharia do Conhecimento da UFSC, e diretor da Knowtec, empresa de tecnologia localizada na SC-401, ressalta que a Virgílio Várzea de hoje precisa ser revitalizada. Para ele, que foi o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado à época da duplicação da SC-401, em 1995, a Virgílio Várzea, que começa no Bairro Monte Verde e segue até o Saco Grande, deve ser uma importante marginal com a função de desafogar o trânsito.
Para Santos, são urgentes as vias marginais da SC-401, assim como uma pista exclusiva para o transporte coletivo. O professor ressalta que a rodovia, com característica urbana, deve receber iluminação, ciclovias e dar condições para os pedestres circularem com segurança. Além disso, seria ideal a implantação de transporte sobre trilhos. Muitas dessas melhorias estão previstas pela administração atual.
Voltando ao passado da SC-401, Ramos lembra que o desenvolvimento dos bairros do Norte, especialmente o de Jurerê Internacional, aumentou o fluxo da rodovia e exigiu a sua duplicação. Esta obra, na avaliação do professor, foi responsável pela exuberância de Jurerê, pelo crescimento desordenado dos Ingleses, e pela atração do Parque Tec Alfa, ponto de partida do polo tecnológico catarinense em expansão.
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Confira a galeria de fotos com imagens antigas da SC-401
Avenida Paulista serve de parâmetro
O movimento de crescimento das cidades para fora dos centros urbanos originais é comum. Se Florianópolis vive a primeira migração de prédios corporativos e de grandes varejistas, São Paulo passa por seu terceiro movimento de descentralização.
O sócio da imobiliária paulistana SPCorporate, Fábio Costa Curta, conta que o centro econômico de São Paulo migrou da região central para a Avenida Paulista, depois para a Brigadeiro Faria Lima e, no momento, o caminho leva à Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklin Novo, localização próxima ao Morumbi.
Segundo o executivo, a Avenida Berrini começou a ser procurada pelas empresas nos anos 1980, inclusive multinacionais. O objetivo era fugir dos altos aluguéis da Avenida Paulista. Mas o trânsito teria desvalorizado a região.
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– A avenida está sendo procurada novamente porque não há mais lugares e tudo está muito caro – observa o executivo.
Segundo Curta, a Avenida Paulista está 100% ocupada. Resistem, no lugar, apenas pequenos escritórios e prédios sem estrutura para receber empresas de grande porte.