Na arquibancada de um ginásio à beira do rio, na Ponta Aguda, oito pessoas acompanham o treino de dezenas de meninas nos tapetes colocados sobre as marcas poliesportivas pintadas no chão amadeirado. É justamente ali, entre crianças e jovens, que uma garota em especial se destaca: Jéssica Sayonara Maier. E não é por acaso.

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Muito embora o cenário não seja o mesmo de seis meses atrás, com a presença de 11 mil pessoas na arena e a vibração olímpica marcando cada simples detalhe, é ali que uma nova etapa de um sonho é construída. Sonho esse que envolve cada um dos cinco arcos cuidadosamente desenhados para sempre no antebraço da atleta, nada mais, nada menos que a capitã da Seleção Brasileira de ginástica rítmica na Rio-2016.

O ano passado para Jéssica, cujo sorriso é quase um padrão no semblante, foi daqueles que ficará para sempre marcado. Aos 22 anos, a menina formada no Clube Guairacás, em Timbó, colocou no currículo não só a disputa de uma olimpíada e todas as experiências que vêm atreladas a ela (como a conquista do prêmio de melhor atleta no Troféu Guga Kuerten, há poucos dias), mas que diz respeito a 2016.

E para coroar o ano mais importante para o esporte no Brasil, a atleta e sua técnica, Ana Paula Mohr, embarcam hoje para o Rio de Janeiro. Isso porque Jéssica concorre ao Prêmio Brasil Olímpico, concedido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e que valoriza os principais nomes no país.

São tantas coisas boas que se desenrolaram de agosto para cá, que nem parece que depois de disputar a maior competição do planeta, Mai – como é carinhosamente chamada por sua treinadora – pensou em largar tudo. Aliás, toda a carreira da jovem timboense foi alimentada por altos e baixos.

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Seja com lesões, distância da família e do namorado – afinal de contas morar com a Seleção em Aracaju (SE) não foi uma adaptação fácil – ou até mesmo a sensação de dever cumprido marcaram os últimos cinco anos. Um vaivém de rotinas e culturas que confundiu a cabeça de Jéssica, mas que, para o bem do esporte brasileiro, optou por seguir firme em um novo sonho: a Olimpíada de Tóquio, em 2020.

A gente abdica daquilo que ama, aí às vezes dá vontade de largar tudo e voltar para casa. Mas esse pensamento já passou e hoje sei o que quero e penso um dia de cada vez, um campeonato de cada vez – conta Jéssica, que chegou a pensar em trancar o curso de Educação Física para iniciar Engenharia Civil. Desistiu.

– Não me vejo mais fazendo outra coisa que não seja a ginástica (rítmica). Quero ser treinadora. Quero formar mais meninas – diz a garota que, neste ano, após um período sem estudar, voltará à sala de aula para terminar a faculdade.

Desde o fim da Olimpíada até agora em Blumenau, Jéssica aguarda a nova convocação para novamente se reapresentar no Nordeste brasileiro junto à Seleção. Até lá, segue ao lado de Ana Paula a preparação para se manter não só o preparo físico, como também toda a técnica necessária para uma ginasta de alto rendimento.

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Tudo para que ela esteja pronta para os desafios que virão a seguir e os obstáculos que terá de enfrentar. Sem vaga garantida, o Time Brasil de ginástica rítmica terá de ser o melhor das Américas no próximo Mundial da modalidade, em 2019, para carimbar o passaporte rumo aos territórios nipônicos em 2020.

Cerimônia ocorre hoje

no Rio de Janeiro

Às 20h de hoje, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, o COB irá homenagear personalidades e premiar o melhor atleta do ano passado, tanto no masculino quanto no feminino, e o atleta da torcida, escolhido em votação popular. Melhores técnicos em modalidades coletivas e individuais além do troféu Adhemar Ferreira da Silva também serão premiados.

É uma espécie de “evento de gala” do esporte brasileiro. Na ginástica rítmica, Jéssica Maier concorre com Emanuelle Lima e Natália Gaudio. Na cerimônia, o comitê ainda entregará a medalha de bronze à equipe feminina brasileira do revezamento 4x100m rasos, que havia ficado em quarto lugar na Olimpíada de Pequim, em 2008. Mais de oito anos depois, por conta do doping de atletas russas, o Brasil foi confirmado na terceira posição e herdará o lugar no pódio, que antes era da Nigéria.