Este é o dia em que me puseram um capacete, um casaco abotoado de alto a baixo, com gola fechada em bolsos grandes do lado, uma calça reta, sapatos pretos e carpim, tudo, do capacete até as meias na cor bege dos tanques e dos soldados. Saímos à rua assim, marchando, amedrontados, havia bandeirinhas ao longo das calçadas da Rua Grande, as mulheres abriam tapetes nas janelas e os deixavam cair até quase o calçamento. Eu sentia frio, o sapato doía, se fez uma volta grande e depois fomos dispersados por um sargento que batia palmas e gritava mandando sair da rua porque estavam chegando os canhões, os soldados e as fanfarras. Lembro ainda da cara dele com o prendedor do capacete amarrando o queixo: – O Exército! O Exército! À tarde, sentei no pátio como os meus soldadinhos de chumbo que guardava numa caixa de charutos Suerdick, e fiquei pensando se a vida seria simplesmente como naquele dia. Testemunhos O empate, a atuação uniforme e confiante do time do Inter, remete para a figura do técnico Zé Mário. É dele e de seus companheiros de comissão no Inter o mérito do time. E o que o torcedor menos aprecia também é um mérito do técnico: a insistência, a repetição, a prudência e o reiterado pedido de calma a todos. Não será o empate com o Cruzeiro todo o motivo. Mas é o conjunto ainda modesto mas insistentemente proposto do time e de suas alternativas que começa a se destacar. Sempre se permitindo pensar que grandes alturas serão por certo ocasionais, o que mais se ver é a aplicação operária do time. É um modelo de organização e já estão feitos os testemunhos de Nelsinho Batista, da Ponte, e agora de Luiz Felipe. Por alguma coisa, Hiran e Lúcio estão na seleção do Lance. Fábio Baiano O Sport perdeu a invencibilidade na Taça João Havelange no último jogo, em Salvador, 4 a 3 contra o Vitória, em que começou ganhando de 2 a 0. É um time de Emerson Leão, uma grife que significa time organizado, veloz e marcador. Conhece boa parte dos jogadores do Grêmio porque foi o técnico alguns meses. Isso ajuda. Como Celso Roth conhece ainda mais os jogadores do Sport pela mesma razão de ter sido o técnico. Mas, tirante as igualdades, o Grêmio pode se diferenciar bastante se se confirmar a estréia de Fábio Baiano. Ele tem força e técnica, um chute poderoso de bola em movimento, reboteiro que é. Poderá sustentar o meio-campo e sua conexão de ataque como Itaqui vinha fazendo com um acréscimo: tem mais habilidade, nele transita um pouco mais do que o passe e a solidariedade coletiva. E se não tem mais Amato, tem Adão. Não há perda. Mas se deve cogitar de vantagens circunstanciais, alguma coisa entre a vontade e a coincidência. ruy.ostermann@zerohora.com.br

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