Caos e colapso viraram adjetivos comuns no vocabulário de autoridades e motoristas quando o assunto é o trecho Norte da BR-101, que vai de Itapema a Joinville. Não é novidade que a rodovia alcançou o limite da capacidade, mas quando chega o verão o problema ganha outra proporção. É que com Santa Catarina lotada de turistas, os congestionamentos se tornam uma realidade ainda mais dura.
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Para quem precisa enfrentar o trânsito, como os caminhoneiros, a única alternativa é a paciência. Paulinho de Liz trabalha para uma empresa de Nova Trento e deveria fazer, em média, quatro viagens diárias passando pela BR-101. “Deveria” porque nesta época perde tanto tempo em congestionamentos que só consegue fazer três. O principal gargalo no trajeto diário dele é em Balneário Camboriú, conta.
Paulinho já tentou sair mais cedo, voltar mais tarde, porém não há uma fórmula certeira para driblar os engarrafamento. É uma verdadeira loteria. Um acidente por menor que seja basta para formar filas e mais filas. Foi o que aconteceu nesta quinta-feira (26). Uma colisão entre caminhão e moto provocou mais de 14 quilômetros de congestionamento em Itapema.
Esse é apenas um exemplo de casos presenciado dia após dia por quem depende da rodovia para trabalhar e sobreviver. A Arteris diz que somente entre 27 de dezembro e 5 de janeiro, 3,5 milhões de veículos devem passar pelo trecho entre o Paraná e Santa Catarina. Isso é 68,49% acima do movimento registrado em um “dia normal” na rodovia.
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— Teve um dia que fique parado um hora sem sair nenhum metro do lugar. Deu vontade de deixar o caminhão ali e voltar a pé — desabafa Paulinho.

Filas quilométricas na BR-101
Um dia após o Natal, o fluxo era intenso pela manhã entre Navegantes e Balneário Camboriú. Não chegava a parar, mas alcançar os 60 km/h permitidos na rodovia também não era possível. Muitos carros e muitos caminhões, todos com destinado à região das praias. Somado a isso, no caminho também estão dois portos e um aeroporto internacional: é o combo perfeito para as filas quilométricas.
O problema segundo especialistas tem nome e sobrenome: falta de investimento e de planejamento em infraestrutura urbana. Embora a rodovia seja duplicada, as marginais não estão prontas. Essas obras são alvo de uma discussão entre o governo federal e a concessionária que administra esse trecho da BR-101, que tenta ampliação do contrato. As duas partes devem voltar a conversar sobre o tema no começo de 2025.
Na visão do superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em SC, Manoel Fernandes, um dos aspectos na região de Balneário Camboriú, Itapema e Itajaí é que são poucas as vias para interligá-las sem ser a BR-101. Além disso, cita ele, muitas vezes a própria rodovia serve de ligação entre bairros. Esses cenários seriam reflexo da falta de planejamento viário dos municípios, na análise do PRF.
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Terminar e interligar todas as marginais é outro tópico para mais vazão ao fluxo de automóveis.
— Tem trechos que não têm as marginais ou elas se interrompem em alguns pontos. Em Balneário Camboriú e Itapema, você vê que não tem uma sequência de via marginal. Se tivesse terminado essas marginais, daria um pouco de melhora. Entre Balneário Camboriú e Itajaí também faltam trechos de marginais — exemplifica Fernandes.
Espertinhos usam marginais como atalho
É nas marginais, inclusive, que entra o único aspecto que o motorista pode cuidar para não piorar ainda mais o caos da BR-101 em dias de congestionamento. De acordo com a PRF, os “furões” que usam as marginais para tentar ganhar tempo provocam ainda mais lentidão ao retornar à rodovia. A recomendação é esperar o trânsito fluir.
Esse “conselho” Alan Pastori conhece bem. Há dois anos ele vai diariamente de Gaspar a Florianópolis para entregar carga de carnes. Nesse período, aprendeu que é melhor passar por Itajaí antes de o relógio marcar 6h — assim consegue chegar no horário marcado com os clientes. Para voltar à empresa, porém, não tem muito o que fazer a não ser contar com a sorte.
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O motorista conta que algumas vezes chegou a pegar um desvio por Tijucas para sair em Brusque, passando pela SC-411. O problema é que se trata de rodovia com pista simples, morros e sem sinal telefônico em alguns trechos. Ele, então, prefere enfrentar a BR-101.
— Se chegar em Itajaí perto das 17h, aí já viu… Vai ter fila, não tem jeito. Um dia eu levei duas horas para ir de Itajaí e Navegantes — recorda Alan.

Liberação do acostamento como “3ª faixa”
Nesta semana, a prefeitura de Balneário Camboriú pediu à Polícia Rodoviária Federal a liberação do acostamento no trecho da BR-101 da cidade como terceira faixa no período da virada do ano. Segundo o prefeito Fabrício Oliveira, o trânsito intenso na rodovia impacta a mobilidade do município que espera um milhão de pessoas só para o Réveillon. Essa liberação, então, seria uma medida extraordinária para a data.
No ano passado, motoristas relataram sete horas de fila para fazer o trajeto de Balneário Camboriú a Itajaí após o show de fogos.
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A liberação do acostamento como terceira faixa já foi testada na temporada passada entre Balneário Piçarras e Porto Belo a pedido da Associação dos Municípios da Foz do Itajaí (Amfri). Entretanto, após o teste, a medida foi suspensa por causa de um impasse. São necessárias obras no acostamento para liberá-lo e não se chegou ao consenso de quem as faria.
Além disso, em alguns trechos há bastante movimento de pedestres e ciclistas, o que colocaria a segurança de pessoas em risco. A PRF também pediu a Arteris, concessionária do trecho, um parecer técnico dizendo que é seguro o uso do acostamento como pista. Na época, a concessionária não se manifestou sobre a questão.
Via Mar é aposta a longo prazo
O problema do trecho Norte da BR-101 não tem solução a curto prazo. As apostas estão na chamada Via Mar, uma rodovia estadual de 145 quilômetros de extensão paralela à federal. Mas há muitos desafios a serem superados para essa nova estrada se tornar realidade, desde contratação de projetos, licenças ambientais e, claro, dinheiro. Isso porque a obra pode custar entre R$ 7,3 e R$ 9,2 bilhões.
Como adiantou o colunista Jefferson Saavedra, atualmente estão sendo desenvolvidos os projetos executivos dos quatros lotes entre Joinville e Itajaí, porém ainda é preciso contratar os projetos executivos para o quinto e maior trecho, que vai de Itajaí a Grande Florianópolis, onde o recém-inaugurado Contorno Viário trouxe alívio aos motoristas.
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Uma projeção da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) aponta que, em um bom cenário, a obra pode estar pronta em 2031. Só que aí vem outra questão: até lá o volume de veículos já aumentou exponencialmente acompanhando o crescimento e desenvolvimento das cidades às margens da BR-101. O medo é que a via litorânea por si só não seja a completa solução.
Um transporte alternativo, como um trem ou metrô de superfície, para interligar populosas cidades que contornam o trecho Norte da BR-101 seria uma possibilidade, apontou a colunista Dagmara Spautz. É uma alternativa para retirar da rodovia uma parte das cargas e um bom número de carros que circulam diariamente entre os municípios, a trabalho e a lazer.
Para isso, seria necessário uma discussão a sério com o governo federal.