Foi na saída do Centro Integrado de Cultura (CIC) de Florianópolis, depois de um espetáculo da Camerata, que Elvira Amélia Sampaio Veiga encontrou Bento, em meados de 2017. O cão parecia ferido e a noite estava chuvosa. Sem imaginar, a pensionista, na época com 75 anos, acabava de cruzar o caminho com seu novo companheiro e futura celebridade na região. Com liberdade para passear, o cão é um fenômeno entre estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e moradores dos bairros Carvoeira e Trindade. 

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— O Bento estava lá deitado, e o pessoal olhando, parecia que estava se fingindo de morto. As pessoas tinham medo de pegar. Eu falei que ele não tava morto, mas devia ter sido atropelado — conta Elvira.

Cão foi adotado em meados de 2017 após ser encontrado em frente ao CIC
Cão foi adotado em meados de 2017 após ser encontrado em frente ao CIC (Foto: Tiago Ghizoni / NSC )

Naquela noite, a pensionista não ficou com Bento, porque ela tinha um boxer, o Bono, que estava tetraplégico. E ela não sabia se conseguiria cuidar dos dois, já que Bento também estava machucado. Então quem levou o cão, que tinha oito meses, para exames foi a violinista da Camerata. Elas combinaram que depois Bento iria para Elvira, mas por período temporário. 

— A intenção era achar alguém que pudesse ficar com ele, mas acabei me apaixonando por ele e ele ficou. Ele é muito bonzinho, acho que todo caramelinho é bonzinho, né? — lembra a dona. 

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No início, morando em um condomínio fechado na Carvoeira, Bento estava tímido e fazia passeios curtos. Foi depois de sair para caminhar com a neta de dona Elvira pela região, que ele descobriu estar perto da UFSC. Logo aprendeu a pular o muro de casa e fez amizade com o porteiro do condomínio, que permitia a entrada e saída dele. 

Livre, Bento começou a passear pelas ruas e ficou conhecido entre os moradores da Capital e estudantes dos centros da UFSC. Como recorda o universitário Leonardo Wolff, da sétima fase de Ciências Biológicas, a presença do cão no ambiente estudantil era comum antes da pandemia e ele era muito querido pelos alunos. 

— Ele costumava aparecer no nosso centro [de Ciências Biológicas] direto, frequentava todos os lugares, entrava nas aulas e ganhava carinho de todos pois todos conheciam o Bento — conta Leonardo. 

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Na pandemia da Covid-19, a universidade acabou tendo que aderir ao ensino remoto e os estudantes passaram a estudar em casa. E Bento ficou sem carinho dos estudantes.

— Ele sentiu muita falta dos alunos. Ficou com depressão, teve uma alergia e perdeu muito pelo. O pescoço dele chegou a ficar completamente pelado. Levei ele pra seis veterinários, fiz diferentes tratamentos com ele, até com uma veterinária holística. Aí dando os medicamentos e mudando a alimentação, ele foi se recuperando — lembra dona Elvira. 

Os passeios e o Instagram

Como é comum Bento passear pelas ruas, a família criou uma conta no Instagram. A ideia é que moradores do bairro avisem, pela rede social, onde o cão está. O perfil tem ajudado dona Elvira a encontrar Bento, como aconteceu na última segunda-feira (27), quando ele saiu para passear, mas demorou para retornar para a casa. 

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O perfil de Bento está atualmente com 7,5 mil seguidores e muitas recordações do período antes da pandemia, quando começou a registrar momentos com alunos e moradores, e atuais. 

— Apesar desse susto de segunda-feira, fico tranquila quando ele sai porque sei que tem muitas pessoas cuidando dele. Por lá ele tem vários protetores e todo mundo conhece o Bento. Não posso e nunca pensei em tirar o direito dele andar na rua. O Bento é da rua, ele nasceu na rua. Já pensou eu tirar a tua liberdade? Ele é livre e é assim que ele é feliz — conta. 

Cão foi adotado em meados de 2017 após ser encontrado em frente ao CIC
Cão foi adotado em meados de 2017 após ser encontrado em frente ao CIC (Foto: Tiago Ghizoni / NSC)

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