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Nosso bom velhinho sabe muito bem como é ser pobre, mas se livrou dessa. Agora está enfurecido, pois ameaçam tomar seu castelo e sua fábrica de ilusões. Nosso bom velhinho não é bobo, ajudou a mexer os pauzinhos para que a renda de 70% dos lares brasileiros não ultrapassasse três salários. Assim criou ambientes perfeitos para entregar suas coloridas bolsas de ilusões em “natais” aleatórios.

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Diferentemente do imaginário Papai Noel da Lapônia, que ninguém sabe como entrega os presentes a todas as criancinhas do mundo em apenas uma noite, o bom velhinho brasileiro é onipresente por meio de sua rede de milhares e obedientes noéis. Vão até onde Judas perdeu as botas, o caixa-pregos e a casa do caraca para entregar as bolsas. E aqui está o ponto onde mais uma vez não há bobos. Enquanto o Papai Noel da Lapônia mete algum medo, repreende, e criancinhas malcomportadas ficam sem presentes, os paus-mandados do bom velhinho nacional valem-se da enorme admiração e subserviência que o povo brasileiro tem pelos donos de fábricas de ilusões, grandes ou pequenas. E dá-lhe ilusão.

Contudo, apesar de toda sua capilaridade, malícia e prestidigitação para cima dos menos avisados, nosso bom velhinho nacional tem lá seus antagonistas. Um deles, valentão, quer pegá-lo, desmontar sua fábrica de alucinações na porrada e meter um punhado de noéis vermelhinhos em cana. Não promete nenhum saco de presentes, mas quer pagar a conta do banco, do armazém, dos eletrodomésticos e da concessionária. Por ora, o povão anda meio confuso, dividido entre os dois. Há outras palhaçadas do naipe em curso no triste cenário político nacional.

De qualquer forma, anoiteceu metaforicamente mais uma vez no Brasil. Os sinos gemem por todos os cantos. E se Deus não dá, alguém tem que dar.

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