Das escolas de Comunicação vem uma manjada máxima: “propaganda eficiente vende até merda em lata”. Hoje, pelo jeito, o vulgar slogan está se tornando realidade bem debaixo de nossos narizes. Esta semana, depois de assistir a duas matérias no Jornal Hoje rasgando elogios a essa tragédia cultural maquiavelicamente batizada de “sertanejo universitário”, não me contive no Facebook: “Simplesmente não acredito que o tal sertanejo universitário tenha raízes no sertanejo caipira. Essa porcaria que tocam agora teve combustão espontânea nos centros urbanos. Nasceu para se aproveitar da pouca instrução das gerações de iletrados que saem hoje das faculdades. No campo, antigamente, a melodia e os arranjos eram de uma criatividade ímpar, simples e dramática. Hoje é pobreza árida, desordem, de poucas notas, com letras feitas para gente que não consegue entender ou interpretar um texto. Universitários funcionais, isso sim. Pobres caipiras…”.

Continua depois da publicidade

Os pobres caipiras, aos quais me refiro, são os indivíduos de coração simples, os compadres da roça, de aguçada percepção das idiossincrasias, crenças, amores e tragédias. Do sertão trouxeram inesquecíveis e pungentes cantos de viola com domínio inigualável de dissonantes, agudos, graves e falsetes. João-de-Barro, Chico Mineiro, Menino da Porteira, para ficar com escassos exemplos dessa vastidão de fertilidade campesina. E Chalana, Cio da Terra e Romaria, três obras primas mais recentes, provavelmente nascidas por entre automóveis, ruas, avenidas e milhões de buzinas tocando sem cessar…

A estes compositores de raiz e alma larga, os produtores da tal matéria do Jornal Hoje atribuíram caluniosa e irresponsavelmente a origem do famigerado “sertanejo universitário”, embotado em hordas de cérebros mal preparados, aos quais o estado brasileiro vetou o português correto, o discernimento, a cultura, o bom gosto, a moral… Desse modo, os abutres das gravadoras e seus atentos marqueteiros escravizaram o desprotegido filão para fazer a mala. Merda em lata.

Não se trata de desancar o que não é rock, samba, pagode, maxixe… Em todos os gêneros há variações de qualidade, porém, todos fiéis a uma estrutura melódica. Isso aí que hoje faz sucesso não tem gênero, estrutura, harmonia, arranjo… É nada. Uma analogia: assim como a maioria das religiões induz à paz, à reflexão, ao bem-estar, uma religião mal ministrada, como os mesmíssimos ingredientes, leva ao ódio e à segregação. Aí não é religião. E sertanejo universitário também não é música.

Do meu amigo Geraldo Bispo, músico profissional: “Sertanejo universitário não é uma coisa nem outra. Sertanejo é musica de raiz, tipo Tonico e Tinoco. E o universitário que se preza cultiva música com conteúdo. Barulho com letras chulas não é nada além de porcaria…”.

Continua depois da publicidade