Sempre gostei de música, sem fissura. Cruzei a revolução hippie, Bossa Nova, MPB, Jovem Guarda, Tropicália, vivi o auge e o encerramento dos Beatles, acompanho o envelhecimento do Mick Jagger e seus maus elementos faz-de-conta, e me divirto com Cauby. Sei a letra de alguns clássicos americanos, ouço um pouco de jazz, curti demais os melosos sucessos italianos e franceses, há sambas arrebatadores, a viola caipira de raiz é encantadora e vez ou outra me fixo numa velharia difícil de cantar e busco a letra no Google. Abomino pagode e sertanejo universitário. Ah, e tenho lacunas imensas com bandas top como U2, Queen, Led Zeppelin, Metalica, The Police, The Doors, Sex Pistols, Iron Maiden… Identifico raras faixas desses caras.

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Nos meus “teens” sabia antecipar a colocação dos hits nas paradas, enfim, sou o típico antigão que amava Roberto Carlos, Beatles e Rolling Stones. Com razoável ouvido e uma inabilidade abissal para tocar qualquer instrumento, sempre vivi nesse sofrido limbo nutrindo uma profunda admiração por quem sabe musicar. Meu caro jovem, se você teve a sorte de não ter sido aliciado por essa trágica bosta que é cometida hoje nos estúdios de gravação, vasculhe o que fizeram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Tom Jobim e João Gilberto, isso pra ficar nas figurinhas fáceis. Temos uma lista sem fim de compositores elevados.

Idolatrávamos essas figuras, imaginávamos serem criaturas superiores, de outra matéria. Com um pouco de lógica, claro, vai-se descobrindo ser um pop star feito de ossos mesmo. Mas alguma magia sempre fica. Ora, não há dúvida: quem compôs Se eu Quiser falar com Deus, Ó Pedaço de Mim, Sampa, Luiza, Morena Rosa, Fera Ferida, Hey Jude, Angie tem todo o direito de pisar no panteão das divindades.

Fiei a conversa por ficar surpreso ao ver recentemente um vídeo nas redes no qual Chico Buarque – supostamente o dono de Olhos nos Olhos e Construção – declara ser desde sempre cliente regular de autores anônimos. Sim, é de se supor que produções geniais não vêm às catadupas, agora, deixar dúvidas se uma preciosidade do peso de Cálice foi comprada, assim como Geni e o Zeppelin, é de broxar.

Óbvio, para astros menores sempre haverá “ghost-composers”, mas o duro é imaginar que, cá em cima, o criador de Papel Machê possa eventualmente ser algum beberrão desconhecido. Bem, depois pensando melhor, me ocorreu ser até possível ter-se uma boa ideia de quem realmente compõe e quem compra: pelas entrevistas. Concorda? Por exemplo, baseado em seus papos, eu não creio ter Roberto Carlos escrito Côncavo e Convexo. Já Caetano, sem dúvida, fez Você é Linda. Penso ser uma fórmula aceitável.

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Mas ela não fecha com Chico…