Ah, a vaidade… Somos todos pegos por ela. Secretamente ou não, desejamos ser reconhecidos, publicamente ou mesmo num grupo, por termos realizado algo importante. A distinção pode vir através de um jantar entre amigos, citação em discurso, uma placa, diploma, medalha, comenda, inclusão no livro de ouro, essas coisas. Ou em forma de busto, monumento, escultura, estátua, nome de sala de espetáculos, entidade, logradouro… O segundo grupo é menos interessante, pois você precisa estar constitucionalmente morto, o que no Brasil nem sempre é cumprido. Há quem goste muito e se regozije infantilmente na mais simples cerimônia baba-ovo. Outra é a turma da saia-justa, esta sequer administra um despretensioso e amigável elogio. Caso deste colunista.
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Nos idos da prefeitura petista, por ocasião da passagem do então presidente por essas bandas, o chefe do executivo, inebriado pela figura do seu ídolo, deliberou cortejar “o cara” fincando uma escultura no Biergarten. Encomendou-a ao talentoso Guido Heuer. Está lá: “Homenagem do povo de Blumenau ao presidente Lula em sua visita à cidade durante a 26ª Oktoberfest. Blumenau, 3 de outubro de 2003. Décio Lima, prefeito”. Não sabia da existência da peça, confesso. Embora, conforme já foi dito, tributos a pessoas vivas não caibam na Carta, o monumento em absoluto me incomoda. Que fique por lá. É História. Quanto ao texto, registre-se, declaro em alto, oficial e bom som: me incluam fora dessa! Não me passa na cabeça homenagear essa figura catastrófica. No entanto, como a frase, segundo li, já está rasurada e ilegível, pouco se me dá. Dispense-se o restauro. E se o tempo se encarregar da decomposição, tal qual sucederá a Lula, melhor.
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Não acompanho amiúde as sessões dos vereadores, mas soube do requerimento no qual pedem à prefeitura a remoção do monumento. Nada a ver, rapazes. É picuinha, briga de torcida. Imaginem se os nobres edis e eventuais descontentes no país saíssem por aí à caça dessas “bruxas”. Pensem só na merda e perda de tempo que ia dar no Maranhão, para ficar num exemplo. Por lá a família Sarney deitou e rolou na autopromoção. Deve ter até mictório público ostentando o nome de algum membro da mais nefasta oligarquia bananeira.
Já pelo ponto de vista dos petralhas, não sobraria um milico ou coxinha dando nome a qualquer coisa. Uma zorra. Salvo protagonistas de crimes em grosso calibre — lesa-pátria, contra a humanidade, etc. —, quem historicamente exerceu algum papel de destaque (incluam-se aí os questionáveis), herda a prerrogativa de deixar seus rastros.
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Reforçando. Aconteça o que acontecer com a obra de reverência a Lula no Biergarten, anotem: no trecho “homenagem do povo de Blumenau”, estou fora.