Tá lá o corpo estendido no chão. Desacordado e ensanguentado, o meliante que acabara de colidir a moto roubada com um caminhão, ainda recebe pancadas vigorosas sobre o nariz e a boca, desferidas com uma peça de metal por um homem que presenciara o acidente. Ao lado, o comparsa morto. No ajuntamento, apenas uma voz reprimia timidamente o ato, os demais concordavam entre murmúrios.

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Em outro vídeo pelo Whatsapp, um “dimenor”, desses tão acariciados pelas Marias do Rosário, se dera mal ao tentar assaltar um setentão de cabeleira branca. O velho era faixa preta simplesmente e fez o moleque rebolar sem bambolê. Imobilizado, rosto enfiado na calçada – enquanto ouvia os xingamentos de uma das maiores autoridades em lutas marciais do país – o delinquente ainda recebia dos saturados circunstantes chineladas e pontapés na cabeça. Desesperado, pedia ajuda. Comovente…

Em outra cena recebida no celular, alguém acelera uma moto em altíssima rotação no ponto morto. Ato contínuo traz um malandro pelo cangote, certamente pego em flagrante, e obriga-o a pôr a mãos sobre o escapamento. Sempre que, aos berros, solta as mãos da descarga quase incandescente, recebe um safanão para mantê-las lá. Alguns gritos de misericórdia e tapas bem dados depois, é dispensado aos empurrões e forçado a dizer bem alto “não roubo mais motos!”. Há cenas semelhantes de sobra na internet.

Conversando com um senhor na fila do banco sobre justiça com as próprias mãos, relatou que semana passada um PM lhe mostrou um vagabundo caminhando na calçada oposta – o safado sorria com escárnio e encarava fixo o policial. “Prendi o ladrão ontem à noite e já está solto, infelizmente amparado pela lei”, lamentou.

No topo dessa sujeira estão os confrontos nas penitenciárias. Transformados em horripilantes açougues humanos, representam bem o retrato de um país aos pedaços – uma nação abandonada à própria sorte por uma escória de políticos sem precedentes “nesse país”, segundo o cacoete verbal do seu representante maior.

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A inflexibilidade desgraçadamente não afeta apenas a segurança. Enquanto uma considerável canalha ainda se alimenta da putrefação do tecido social, os que ainda detêm alguma noção de cidadania, dia após dia vão perdendo as estribeiras também com nossos sistemas de educação, saúde, tributação e transporte. Quem ainda pode, procura alternativas desesperadas nessas áreas. Bem mais caras. Até no exterior.

Nesse festival de criminalidade que assola o Brasil em todos os seus buracos, sobra um consolo às avessas: a malta aboletada nos poderes, não sai mais de suas tocas de ar-condicionado nem para uma pizza na esquina.

Caro doutor Sérgio Moro, não se apresse. Já estão todos em cana.