Volta e meia há comentários nas redes sociais alardeando defenestrações de jornalistas por trazer a público as saias justas e transgressões em que se mete a politicalha miasmática. Embora haja um claro fascínio pela mordaça (tal qual aconteceu faz pouco na história desse país), revelado a toda hora pelos bufões do Planalto, na realidade há uma interseção mínima entre os dois universos. Não pela esfarrapada democracia, mas pela obsequiada impunidade. Os cupins da coisa pública já estão se lixando em escala geométrica para a imprensa. Por mais investigados, desmascarados e até presos (pouquíssimos), a malta aposta num gordo futuro pós-penas – nunca condizentes à dose merecida – e acostumou-se a dar pouca importância a matérias lhes mordendo o calcanhar.
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Se um Alexandre Garcia, Arnaldo Jabor, Carlos Alberto Sardenberg, Elio Gaspari, Miriam Leitão, Diogo Mainardi, Merval Pereira, Rosean Kennedy, Fernando Gabeira, Lucia Hippolito e tantos outros escarafuncham o lodaçal, prontamente pululam cínicas negações, feições deslavadas e costuras de histórias mirabolantes. Tudo adquire virtual veracidade _ seja por exaustiva repetição, seja pela legislação esburacada.
No momento, a mais completa tradução da zorra pátria é, sem dúvida, o deputado evangélico Eduardo Cunha (Lula, o desconhecedor das regras republicanas, é hors-concours). Ao camaleão de araque, presidente da Câmara _ a essa altura, de apresentações dispensáveis _ lhe cai como luva um verso de Sá e Guarabira, “Maria de rezar, também era Maria de pecar”. E o velho e acaudilhado Renan, hem? Bem, só se desmanchando em gargalhadas. Nós, pela incredulidade de suas acrobacias; ele, pelo seu renascente céu de brigadeiro. Os dois dissimulados reinam absolutos, tangem o país, detém fortunas. Enquanto isso, a caravana rasgada pelo leão se concentra nas estradas irregulares e num provável latrocínio na curva seguinte.
Não se alarmem, pois, nem gastem a indignação. Refreiem o afã de repassar às redes sociais imaginários bilhetes azuis dados a repórteres que não alugam a matraca. Seguirão em seus postos, sim, porém, dando teclada em ponta de faca. E _ indiferentes às redações e refratários a manchetes – os mal eleitos em todos os níveis continuarão arrasando nosso dia a dia. O Brasil, amargando o maior déficit da sua história, não vê como sair desse limbo pegajoso. E, para finalizar e alfinetar os cegos seguidores do lulopetismo, uma frase do Jabor: “eu acho que qualquer coisa serve: impeachment, renúncia, intervenção da ONU, terremoto, sei lá o quê. Mas algo vai ter que acontecer. Por isso eu repito: como é que essa coisa louca e suja vai acabar? Será que acaba antes de o país acabar?”.
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