
::: Leia outras colunas de Cao Hering
O jornalista teuto arrumou animosidades por aqui ao fazer sua interpretação sobre os vestígios culturais dos colonizadores. Claro, foi apedrejado nas redes com o indefectível clichê “alemão de merda” por estranhar nosso descompasso com a Alemanha de hoje. Além dos excessos decorativos, escreveu ele, os germânicos do Sul vivem presos a uma nostalgia, estão congelados numa cultura ultrapassada. Numa imposta “Lederhose”, disse também fazermos leitura equivocada da indumentária e outros costumes durante os festejos de outubro, dado nossos ancestrais não serem bávaros, nem usavam calças de couro. Sugeriu que nos abríssemos a novas influências e deixássemos de venerar a velha Alemanha.
Continua depois da publicidade
Do lado de cá, falsos bávaros saíram-se com pérolas para cima do alemão. Dois senhores num café gritaram para o repórter: “vocês tem que parar com a imigração para a Alemanha, senão em pouco tempo a Alemanha não será mais alemã!” (uma importante reivindicação de quem nunca foi à Alemanha…). Permitam-me uma mediação. Já falei sobre isso. O que acontece em nossas Oktobers e congêneres não é uma coisa nem outra. Ninguém está preso a tradições germânicas, pouco sabemos delas. Salvo exceções, o idioma de Goethe já está todo quebrado nessas bandas. Há quem o estude, não por apego a raízes, mas para interrelacionamentos.
Os 19 dias na Vila Germânica e desfiles na Quinze são apenas um imenso, delicioso, desenfreado e assumido fake. Não há germanofilia nesse carnaval transgênico, nem valores centenários em resgate. Muito menos busca de autoconfiança. É só uma reinvenção, um bom motivo para beber, comer, paquerar, dançar e se exibir loucamente. É uma explosão de criatividade e exageros. É uma festa kitsch, uma profusão de roupas “típicas” com licenças estilísticas. É uma sobreposição de bandas. É a miscigenação. É a Choppmotorrad do Ingo, é a Planetapeia do Nerino. É o Brasil turístico que vem se soltar na caricaturada Baviera – Blumenau.
Até os seis anos fui criado em alemão. Não me lembro de alguém da família bater no peito e dizer “Ich bin ein Deutscher!”. Queria que o Fischermann soubesse disso.
Continua depois da publicidade