Numa entrevista, pouco antes de morrer, Chico Anysio deixou uma frase, talvez não muito original, porém com outro prisma diante da finitude. Ele disse “eu não tenho medo de morrer, tenho pena”. Lamentou os eventos da humanidade dos quais não mais participaria, além do crescimento de seus netos. Faz pouco observei uma foto dos Beatles minutos antes da antológica travessia pela faixa de pedestres na Abbey Road. À beira da calçada, matutava o criativo revolucionário John Lennon. Por um momento me ocorreu o que este sujeito ousado e curioso deixou de viver por ter sido assassinado antes do avassalador avanço da tecnologia nos últimos 30 anos, inclusive na música. Aos 75 anos, o que estaria fazendo Lennon pelas gravadoras, palcos e agitações sociais?
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Depois de assistir Perdido em Marte, com Matt Damon, e ao mesmo tempo ver divulgada a confirmação das ondas gravitacionais – previstas por Einstein há 100 anos e fundamentais para entender o Universo -, também lamentei, embora de um jeito meio tolo, por não ter tempo adiante para assistir ao homem desvendar mais amiúde os mistérios do espaço, assunto que sempre me fascinou.
Caso voltasse a viver mil vezes, provavelmente não veria voos charter cobrindo distâncias inimagináveis. Ainda assim me aflige saber que nunca vou testemunhar os atalhos propostos pelo “Buraco de Minhoca”, através dos quais teoricamente seria possível atingir em tempo reduzido um planeta misterioso situado a bilhões de anos-luz. Se os seres se desenvolvem adaptando-se às condições impostas por um determinado ambiente e a isto se soma uma paciência de milhões de anos, mais os acasos, coincidências e muitos recomeços, fico afundado em curiosidade quando penso na colossal multiplicidade de estranhezas alojadas infinito afora.
Ondas gravitacionais aliadas a buracos negros, supostas dobras do tempo e o escambau fizeram os astrólogos trazer novamente à luz – apenas no papel! – a possibilidade de se viajar pelas galáxias como vamos hoje do Rio a Nova York. Eu sei, não haverá tempo para tanto. Filmes na linha de Perdido em Marte são a única opção para sossegar aficionados como eu, que curtem perscrutar essas probabilidades ligadas ao futuro.
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Mesmo tendo sido gravado em Wadi Rum na Jordânia, um deserto avermelhado, mas longe de ter a gravidade de Marte (um terço da nossa); mesmo que o diretor Ridley Scott não tenha exigido os efeitos para fazer Matt Damon, o seu veículo marciano e a poeira flutuarem em câmera lenta sobre a superfície inóspita, é inebriante imaginar-se refém das condições precárias do Planeta Vermelho. Ou então, por exemplo, soltar a imaginação sobre o que nos reserva o ano 3000…
Ô coincidência: alguém acaba de postar no facebook Across the Universe, de John Lennon.