Ah, sim. Sem dúvida estou ficando velho. Preciso admitir. Assumo! Estou me tornando repetitivo, chato, num assunto. Por mais que me esforce para entender, não consigo mais suportar um mínimo trecho sequer das “músicas” que hoje infestam ferozmente rádios, baladas, bailes, programas de auditório, bares, shows, eventos de toda ordem. Por falta de retorno, para manter a terminologia, já aderi ao time dos incomodados retirantes. Sem jus sperniandi! A este país tropical – historicamente abençoado por seguidas safras dos mais refinados e criativos músicos e compositores – estão lhe impingindo acordes em forma de merda. (Não estranhem, o palavrão está liberado pelos editores faz alguns anos).
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Recentemente me vi sentado à mesa em uma festa de formatura caprichosamente decorada e iluminada. Todos bem vestidos, mulheres bonitas, homens engravatados, amigos, muitos conhecidos, a maioria jovens, salão lotado. São eventos sociais indispensáveis para o bom andamento das relações entre indivíduos; são os necessários dispositivos para travar novas amizades, iniciar negócios, namorar e, por que não?, fazer o mundo girar melhor com umas doses a mais. Mas o que está acontecendo com o “som”? Não, queridos, sem essa de tachar este colunista um admirador de Vicente Celestino ou pé-de-valsa regado a boleros. Não, não. Data vênia.
Meu argumento é mais simples, caro e paciente leitor. E fácil, extremamente fácil, pra você e todo mundo. Testemunhei naquela noite o desmonte irresponsável e, acredito, irreversível do que um dia foi chamado de música. A assim convencionada banda, de cabo a rabo da noite, disparou seus instrumentos num único monótono e estridente emaranhado de pouquíssimas notas. Quem “compõe” aquilo? Um troço desprovido de talento, técnica, arranjo, criatividade e sei lá mais o quê. Numa analogia, é como ter os ouvidos injetados de areia. Uma interminável e monocórdica peça gritada sem alma, da qual se sobressai o batuque entrecortado por frases de mau gosto. E a galera dançando nesse lixo.
Por Deus, não saberia dizer se naquele aterro de notas desconexas era possível separar algum gênero, nem o famigerado sertanejo universitário. Enfim, fica a indignação de quem teve o ouvido criado na Bossa Nova, Tropicália, Paralamas, Zeca Balero, Chico, Caetano, Cazuza, Gal, Titãs, Kid Abelha, Cássia Eller, Elis, Milton Nascimento, Skank, Jota Quest, Metalica, Led Zeppelin, AC/DC, Pink Floyd, Stones, Tim Maia, Beatles, Ney Matogrosso, Madonna, Jimmy Hendrix, Bob Dylan, The Clash, Jorge Benjor, Iron Maiden, Rod Steward…
Há mortes anunciadas em muitas áreas, mas na música essa dor é mais doída. Nesse miserável desmonte do belo, estamos inexoravelmente voltando a dançar ao som de batuques secos sobrepostos por interjeições escatológicas.
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