De novo andaram medindo a felicidade mundo afora. Não sei pra quê. Nesse ranking organizado pela ONU, o Brasil ficou em 22º lugar. Na avaliação anterior estávamos em 17º. Já dei meus pitacos sobre isso, felicidade é um troço de aferição complicada, não cartesiana, nem obedece a uma escala como as temperaturas ou os abalos sísmicos.
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A felicidade está mais para uma tabela de cores, aquelas usadas nas gráficas, na qual o preto supostamente seria a tristeza absoluta e o branco representaria o nirvana. No entanto, se alguém pelos moldes da tabela estivesse vivendo, digamos, uma exuberante “felicidade verde-esmeralda” nela, além do azul e amarelo, inevitavelmente haveria considerável percentagem do preto, o que de forma alguma poria o sujeito na condição de triste. Hm… Acho que dei uma dentro com essa analogia.
Ah, ainda segundo a ONU, os hermanos argentinos estão duas infelizes posições atrás de nós. Agora imagine uma informação dessas na mão dos baianos. É carnaval na certa. Ao mesmo tempo haveria novo embaralhamento do ranking, nos fazendo avançar no mínimo umas três casas. Não adianta, a felicidade dos ocupantes da Terra se modifica a cada instante.
Por aí também é possível assegurar que na última semana houve um “up” no humor dos portenhos ao saberem da lambança com a carne brasileira, sua rival. Estivessem os pesquisadores da ONU atuando em tempo real, os vizinhos voltariam a encostar no Brasil, ou mesmo ultrapassá-lo. Portanto, nada me convence, a lista da felicidade é furada.
Agora, diga lá, caro e paciente leitor, num relance, qual é sua concepção do estado de espírito dos nórdicos? É… eu também achava isso. Só que não. Eis a ponta do ranking elaborado pelos dedicados perscrutadores da ONU: Noruega, Dinamarca, Islândia, Suíça e Finlândia. Nem em meus mais recônditos devaneios imaginaria esses países – todos mergulhados em longos, escuros e rigorosos invernos, excetuando-se a Suíça – serem os donos das cinco primeiras posições em felicidade.
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Enfim, a exemplo da clássica parelha amor e ódio, felicidade e depressão também devem ter lá seus acertos diplomáticos. Mesmo no congelante breu finlandês sem réstia de sol; num salão mortiço e grave em Buenos Aires envolvido por um tango pungente; naquele restaurante do Soho salpicado de personalidades ou nos esplêndidos avanços das escolas de samba na avenida, haverá sempre infinitos matizes entre a felicidade e a tristeza. Vinicius poetou definitivo: “para se fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/Senão não se faz um samba, não”.
Hoje é sexta-feeeeira! Entreguei esta coluna ontem, bem antes do jogo Uruguai x Brasil. Portanto, você e eu estamos sabendo só agora se nossa 22ª colocação em felicidade mundial sofreu alteração.