Endoidamos de vez, o rebaixamento é geral, saímos pela porta dos fundos para um compulsório nosocômio ao ar livre. Na orla carioca caiu a noite em pleno dia, e é só uma amostra. Estamos bêbados, vestimos luto. É um golpe de mar, outro de cachaça e um de esquerda no contribuinte. É um balão no céu, é uma nave no chão. É a zika, é a febre malsã. É o fim da picada, é o avesso do avesso do avesso. Ainda assim, certos intelectuais e atores funcionam regularmente. Para eles é sempre sábado.
Continua depois da publicidade
Tem graúdo na cadeia, um japonês pelas ruas e um torturante bandeide no calcanhar de uma louca convidada a dançar. Deixamos a vida nos levar caminhando contra o vento de boné invertido. A fome não é zero, a bolsa é da “famiglia”. Felicidade foi simbora, exceto nas hienas de boteco. Tá tudo muito bem, tá tudo muito bom.
Hordas de zumbis em desordem gritam palavras de ordem, vindas de Paris, sem saber até onde essa estrada do tempo vai dar. Que tal juntarmos nossos capitais? Quais? Ora, o da Câmara, o do vice e o do Turismo. Mas realmente, realmente, a gente queria que elas ficassem nuas. Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que não aprendi, o importante são as tantas emoções. Jesus Cristo, você não soube me amar!
Meu amigo escritor, também possuído, ensaia a cegueira. Ainda estamos em 1808 e ele – alô, alô! – não reponde… Se a história do Brasil está escrita em vinho tinto de sangue, tô nem aí, tô nem aí. E se tudo em volta está deserto, vamos de santo-daime e dá tudo certo. Tudo certo como dois bilhões são troco. Enquanto as balas perdidas furam nosso zinco e o fornecedor de mortadela se dá bem, a Cidade de Deus se alastra por culpa da Veja, da Globo e da zelite.
E o lobão mau virou cordeirinho: saiu da casamata acreditando que perdão foi feito pra gente pedir. Deu pra ele. Já não manda tudo pro inferno. O canastrão bi e o afetivo dividem a plateia num cuspido pas-de-deux. O falastrão, enfraquecido, só tem perdigotos. Os juízes erguem suas bandeirinhas e 200 milhões ficam impedidos. Fúria nas redes: Betty Friedan está de volta na pele de quem nunca soube quem ela foi. Mulher-macho, sim sinhô! Sem recato.
Continua depois da publicidade
Mas o que eu quero lhe dizer que a coisa aqui tá preta. Vai passar? Sei lá. Por enquanto saio correndo do pivete. Coxinhas vão de Uber. Ai se eu te pego… Brasil, mostra tua cara! Nosso amor foi tão bonito, já não finjo que acredito. Chama o cara que vende música e letra! Preciso fazer urgentemente um samba em homenagem à nata da malandragem. Pode ser ópera, malandro? Não! É orquestração afinada. Só não me envolve que eu nego tudo, mesmo sob vara. Tira essa escada daí!
Por tudo isso, dizemos sim ou dizemos não? Nunca saberemos, não é pro nosso tempo.