Eu desconfio de uma coisa: o Brasil talvez seja o único país que aceita, até com certa candura, ter dirigentes tão pés-de-chinelo. Calma aí, nada a ver com origens. É a tal postura maltrapilha, tanto na moral quanto no comportamento e palavreado. Não é segredo, as evidências estão aí a denunciar o quanto somos despreparados para nos ver como pátria. Há incontestável resistência ao bom gosto, fazer certo, falar direito, observar leis. Quem aí desconfiou que Lula fosse entrar na conversa? Bingo!

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A cena do ex-presidente, em síncope, fora de órbita, se cuspindo todo ao reivindicar para si o grau máximo da honestidade nacional, é um desses momentos-mico com endereço certo na História: o anedotário. A figurinha, sem dúvida ainda credor da atenção de considerável número de brasileiros, faz tempo perdeu a noção dos seus limites. Homem público, leva sua mediocridade e chinelice para além das rodinhas dos aduladores em Atibaia. E o que fazemos? Vamos pras redes sociais. Só.

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Lula é apenas mais um dos personagens risíveis produzidos por nossa política. Jânio, Juruna, Collor, Tiririca, Enéas, Severino Cavalcanti, Agnaldo Timóteo, Clodovil… também já fizeram das suas no picadeiro. Mas, salvo grossa desinformação, nada se compara à raça capitaneada por D. Inácio, o Nunca Antes, que ora arrasa de vez nosso já ralo patrimônio ético e pecuniário. Cassações que é bom, nem sinal. E nós: dá-lhe gracinhas nas redes. É sambinha, montagenzinha, piadinha, trocadilho (não me excluo) e a coisa morre na Praia das Astúrias.

E Dilma, hein? Decididamente inábil em tudo, não há assunto que domine. A limitação estampa a carantonha quando improvisa, ou lê aquelas declarações bizarras preparadas por assessores. E nós? Nas redes. Esta semana vovó visitou o Congresso para pedir penico. Rolou pasmaceira. Depois de 13 anos empurrando a vaca pro brejo, fiou fino as obviedades para tirar a economia da m… Todas conhecidas à larga. Ladeada por dois politiqueiros da pior laia – Cunha e Calheiros (investigados até as calvas mal cobertas) -, teatralizou mais uma dessas chinelices inimagináveis em qualquer governo minimamente consciente do seu papel. E nós? Nós nas redes…

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Decerto há desatinos em outros reinos, mas lá sempre se entrevê algum verniz, um mínimo de modos. Mesmo em déspotas do naipe de Fidel, Chávez, Cristina ou Bashar Al-Assad há claros indícios de academicismo. Aqui não. Quanto mais bafo de cerveja, “é nóis”, “hoje é sexta-feira!” e palito nos dentes, mais nos identificamos.

Ok, fomos às ruas, panelamos e… e… paramos. De efetivo muito pouco. Estamos por um fio. Se o impeachment não levar a encrenca, a roubalheira e a breguice corroerão – obviamente sem cerimônias – de vez o país do Carnaval e, vá lá, do futebol. E nós?

Em 13 de março teremos outra chance.