Tenho o hábito de vez ou outra consultar o Google para conferir minha posição na foto (espelho, espelho meu…). O Google, aliás, me intriga: desconheço o mecanismo das suas postagens, nem faço ideia como e quem decide o que deve aparecer ao se digitar “cao hering”. Faz uns dias, numa dessas consultas, além das minhas colunas, charges e alguns flagrantes com cara de tolo, descobri surpreso rodando por aí um vídeo que enviei no Whatsapp a meu primo falando umas bobagens pelo seu aniversário. Não sei como esse troço foi parar na rede. Enfim, conformemo-nos, George Orwell tinha razão. Só que o implacável Big Brother imaginado por ele para 1984 é uma moça comparada ao batalhão de espiões a nos rastrear a intimidade em 2016.

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Em março, na iminência do afastamento de Vovó Metralha, deparei no Google com o título “A Grosseria de Cao Hering”. Um blog recriminava o post no meu facebook por exibir a foto de Marcela Temer com o texto “chega de hermafroditismo, finalmente uma primeira-dama bem ao gosto dos brasileiros”. Ah, pra quê! O patrulhamento veio com tudo, especialmente na minha página. E no tal blog, visivelmente patrocinado pelo PT, ainda havia um comentário: “Da série ?grandes nomes da imprensa do Brasil?. Cao Hering do Jornal de Santa Catarina esbanjando falta de educação e grosseria” (“grandes nomes” obviamente foi uma ironia). Ok, dou a mão à palmatória. É grosseria, reconheço. A então presidenta – dispensem-se detalhamentos biológicos – claramente não detém essa particularidade e, claro, seria incorreto e injusto citá-la por isto.

O fenômeno é outro. Mormente no território das redes sociais a tensão com a presidenta e equipe só fez crescer desde a posse. Asneiras seguidas de asneiras, desinformação após desinformação, incompetência sobrepondo incompetência, mentiras tapadas com mais mentiras e grosserias em cima de grosserias (os áulicos que o digam), Dilma Vana Rousseff acabou por incitar golpes faltosos como o meu.

Depois da letrada e atuante Ruth Cardoso, não houve mais a figura de uma dama de boa cepa no Planalto. Se a ausente Muda Marisa só nos proporcionou fiascos silenciosos e constrangedores, a destemperada Dilma pôs áudio nas gafes, com destaque para seus discursos na presença de mandatários e personalidades internacionais. Esta senhora não soube, na condição de mulher e primeira governante do gênero, conferir alguma delicadeza às ações presidenciais. Preferia os palavrões. Não soube ser presidente, não soube ser dama. Aí, quando nos apareceu Marcela – a bela, recatada e do lar – a gaiatice nacional, sempre de sobreaviso, logo foi à forra.

De minha parte, vão as desculpas pela piada. Da parte dela, não sei se um dia ouviremos alguma…

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