Então ficamos assim, 2016 foi um dos piores anos da nossa história recente. Fico devendo o espaço de tempo referente a “história recente”, haja vista termos amargado de 1964 a 1985 um regime pouco recomendável, seguido por paspalhos especialistas em enterrar economias.

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Houve um respiro animador com o advento do Plano Real, mas como o país é irredutível no quesito estado provedor, não demorou venderam-lhe outra vez um Schlaraffenland – ou Cocanha. Cocanha é um país mitológico, divulgado durante a Idade Média, onde não havia trabalho e o alimento era abundante.

Lojas ofereciam produtos de graça, o clima era sempre agradável, o vinho nunca terminava e todos permaneciam jovens. Vivia-se entre rios de baunilha, colinas de queijo e leitões assados voadores. Com a chegada de Lula, prometendo uma imensa, farta e preguiçosa Cocanha, de novo o cofre não suportou. Sobreveio o tempo instável. Vinho e queijo copiosos nunca chegaram ao povão.

Semana passada, mais uma vez fui convidado pelo apresentador Jota Bernardes, da Rádio Nereu Ramos, para um bate-papo ao vivo. Há uns meses, no mesmo programa, entre fosforilações políticas inconclusas, me desafiou a criar uma frase alternativa para a bandeira nacional. Só agora sugeri “Desordem em Progresso”.

Piada pronta. Alguém já deve ter achado esse infame trocadilho. Enfim, o Brasil é isso mesmo. Nossa desordem é visceral, incrustada, progressiva e danosa. O povão votante decididamente não pensa como nação. Nunca nos foi incutido razoavelmente a ideia de tecido social. Por outra, a frase de J. F. Kennedy, “não pergunte o que o governo pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo governo”, está fora de questão.

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Há uns dias dois internautas em momentos diferentes postaram vídeos de caminhões acidentados. As imagens afastam qualquer esperança de um ingresso no primeiro mundo. Os veículos sinistrados – um tombado e outro em princípio de incêndio – encontravam-se visivelmente em pontos de rodovias com pouca densidade populacional. Mesmo assim, saqueadores, qual formigas, surgindo às dezenas sabe-se lá de onde, revelavam o lado mais degradante da gentinha que vai às urnas e clama por direitos.

Em desordem furiosa, extraíam do imenso baú deitado caixas que não identifiquei. E, no local da carreta fumegante, as hordas mais se assemelhavam a piranhas, verdadeiros loucos em êxtase: munidos de ferramentas, além de outras peças, depenavam o rodado e o que podiam levar da mercadoria. De Cabrais nos subtraindo bilhões a malvestidos saltando perigosamente sobre a autoestrada atrás da “carniça”, o Brasil está bem servido.

Em tempo, o PT (perda total) planeja mais uma vez lançar Lula à presidência. Sai ano-ruim, entra outro. Desordem em progresso, por ora é o que temos.