Sou pouco iniciado nas influências recíprocas entre seres vivos e o meio ambiente. Muito menos sei propor soluções ecológicas. O tema é complexo, requer graduação em biodiversidade e um rastreamento constante do sinuoso comportamento humano. É assunto pro Lauro Bacca. O que sei: a água doce do planeta está com os anos contados, o estoque já foi seriamente acometido pela poluição descontrolada, o tratamento sai caro.
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Mais: 72% da superfície do planeta é coberta por água, 97% dessa água habita mares e oceanos e é salgada e não potável. E a cada instante engrossa a fila de gente necessitando, pelo menos, bebê-la. O que me encuca: com esse formidável volume à disposição e a tecnologia em avançadíssimo estado, por que simplesmente não a dessalinizamos?
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Matar aulas de Física dá nisso. A água do mar, antes de ser tratada, precisaria ser bombeada para reservatórios. E como se faz isso? Com bombas movidas a energia elétrica. E de onde vem a eletricidade, seu burro? Em sua esmagadora maioria de alguma barragem, represa, açude ou curso de água que, grosso modo, na queda transforma energia mecânica em corrente elétrica. Um círculo vicioso capenga. (Por favor, a queima de petróleo e carvão fica fora disso). Aí você, bem informado leitor, retruca: e as energias solar e eólica? Certo. No entanto, o realizado nesse campo ainda é ínfimo e até agora extremamente dispendioso.
Boas novas. Uma reviravolta vem aí. Fiquei surpreso ao ouvir um excelente comentário de Ethevaldo Siqueira na CBN, sobre o projeto Cidade Solar – a Gigafactory – em construção pelo governo de Buffalo, no estado de Nova York. O investimento fabricará 10 mil painéis solares por dia, produzirá um gigawatt por ano e entra em funcionamento agora em 2017. Em suma, com a multiplicação dessas fábricas mundo afora, o preço da energia se tornará tão em conta a ponto de as mineradoras de carvão sumirem até 2025. Energia limpa, baratíssima e em abundância resultará em água dessalinizada farta a dois quilowatts/hora por metro cúbico. A humanidade agradece. Observou o comentarista: “imagine o que será possível se cada um tiver água limpa o quanto desejar e quase sem custo”.
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Sim, o que será possível? Cessarão conflitos entre os povos? Sem o bombeamento da água subterrânea, Pequim deixará de afundar 11 centímetros por ano? Os coronéis nordestinos farão vista grossa ao copioso acesso hídrico? A transposição do São Francisco sairá das promessas de campanha? O Aquífero Guarani repousará em paz? O PT esquecerá o Pré-Sal? Franceses e alemães tomarão banho com mais frequência? Os árabes não terão mais inveja dos judeus, pois, sem esforço, também tornarão verdes seus desertos?
E Chico Buarque, em Paris, cantará com mais ênfase “água nova brotando e a gente se amando sem parar”?