Chegará o dia em que a pátria-mãe nos oferecerá um sistema livre da vergonha? Difícil saber. Enquanto isso a luta continua nas entranhas do poder, em cima do muro, com a boca na botija, nas filas dos ônibus, num mar inesperado de lama ou para quem teve a sorte de sair vivo de um assalto. O vai-não-vai desse gigante – desde sempre com um pé no futuro – já meteu muito analista sabichão na berlinda. E o exotismo de nossos “gênios” é matéria pra endoidar editor. Entretanto, por mais que estejamos fartos da sopa de letras mortas, as miudezas locais ainda deixariam eufórico um experimentado Dias Gomes (ao Google, rapaziada!).

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Salvo umas audiências públicas, nossa Câmara é ambiente tão estranho para mim como é íntimo para o articulista Clóvis Reis nestas páginas. Desconheço a Casa nos detalhes, mas o que sobra para as ruas, imprensa e redes sociais dá frouxo um anedotário. Imaginemos um dos edis: um dia encasquetou fazer parte da bancada municipal e foi à luta. Atazanou a periferia com tapinhas, santinhos, visitinhas, conversinhas, o diabo. Foi eleito. Gostou das mordomias, os munícipes o reverenciaram, os repórteres cutucaram, o tempo correu.

Aí, ao ver colegas se destacando na mídia (uns até se enfrentando como bisões no Facebook) nosso edil, lá com suas havaianas, também foi acometido pela sede por um lugar na história. Precisava propor um projeto marcante que no futuro lhe rendesse ao menos um Blumenau em Cadernos! Em casa, ao ruminar sobre possíveis glorificações, caiu em desânimo. Putz! Tudo já fora abordado: a ponte do Centro, o Edifício América, uma nova sede, as capivaras, ciclovias, a ligação Velha-Garcia, o Frohsinn, a proibição de bebidas alcoólicas em lugar público, a margem esquerda, pesagem de mochilas, cadeiras na calçada, concurso do pão com bolinho… Tudo isso já dera 15 minutos de fama a alguém. E ele, nada.

Bateu o desespero, a insônia. Nutriu inveja secreta pelos desgraçados que propuseram o patrimoniado do Kochkaese e o tombamento da Linguiça Blumenau. Por que não se lembrou disso antes? Ah, não fosse o polêmico “fuagrá” patrimônio francês, entraria com um projeto “no sentido de” e daria um balão nesses protetores dos animais.

Estava nisso quando, no repente, trombetas ecoaram no crânio vazio. Eureca! Abrira-se o caminho para os píncaros da vereança. “É isso!”, gritou, e rascunhou nervoso “todos os apelidos populares de logradouros que se sobrepõem aos nomes de registro passarão a ser oficiais”. E listou: Trevos da Mafisa, Celeiro do Vale, Parada 1, Jaracumbaco, Rua da Omino, Capim Volta, Morro do Scussel, Ponte Preta, Fifa… É ir pra galera.

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Mas por enquanto deixaria de fora “Lá Onde a Velha abre as Pernas”…