Recorro a um artigo de Geraldo Samor escrito em 24 de fevereiro para a Veja sob o título “Um Bloomberg Brasileiro”. Michael Bloomberg foi o prefeito que ajeitou Nova York e há menos de um mês tinha pretensões à presidência dos Estados Unidos. Não tem mais. Samor lembra que Bloomberg aventou se candidatar por a campanha americana estar tomada pela intolerância de Bernie Sanders, Ted Cruz e o franco-atirador Donald Trump, “cujos notórios problemas de temperamento não combinam bem com o acesso ao botão nuclear”. Está entre os 10 americanos mais ricos, o que levou Samor a propor, como muitos, que as mazelas sociais e econômicas do Brasil só teriam chance de ser resolvidas na mão de empreendedores de sucesso com polpudas contas bancárias. Em suma: a “zelite”.

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Faz muitos anos, ouvi em um discurso inflamado de renomado ex-senador local do PMDB, já falecido, “quem resolve é a elite”. Na ocasião, ainda tomado pelos impulsos anti-regime militar deixei aquela afirmação em stand by. No entanto, a abertura do prostíbulo político nacional só veio para reforçar o mote. No Brasil, Executivo e Legislativo acabaram dominados por cascas-grossas, ignorante em economia e administração, visando somente manter-se no poder. O descrédito é geral e, não por acaso, um indigesto bocado do Congresso responde a processos. Ora, por que será?

Fácil. O próprio Chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, disse sobre seu partido, o PT: “Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”. Deixou escorregar que tipos chulos, sem escolaridade, cultura e educação devem ser mantidos longe da caneta do Planalto. Não dão conta, porque não sabem e nem querem. De apetite refreado e sem o mínimo traquejo determinado pela função, em lugar de pensar a Nação acabam interessados mesmo em comprar avião, ternos caros, viajar, comer lagosta, patrocinar asnices, organizar festas juninas, montar uma adega descomunal…

No exercício sugerido por Geraldo Samor, imagine-se no poder um Edson Bueno que construiu ao longo de décadas a maior empresa brasileira de medicina de grupo, a Amil; um Salim Mattar, que transformou uma pequena locadora com seis Fuscas usados e financiados na maior empresa do ramo na América Latina, ou um Abílio Diniz, 79, certamente com mais energia do que toda a entourage de Dilma Rousseff. É a zelite, meu chapa, acostumada aos trancos dos números, à administração pragmática e usa o próprio dinheiro para bancar um triplex. Porém, “o primeiro obstáculo a vencer é a ideia – tão brasileira – de que o empresário é um cara mau, que acumula à custa dos pobres”, lembra.

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Assim, “nesse país”, a possibilidade de vermos um empresário no poder praticamente não existe. Preferimos demagogos bufões, cujos notórios problemas de conduta não combinam bem com o acesso às chaves dos cofres públicos.